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A CRUZ QUE CARREGAMOS

Atualizado: 15 de fev.

No início do século vinte, tudo era mais difícil e precário. As pessoas se contentavam com o que tinham, pois não tinham conhecimento do que era possível ter. Era uma época em que os ricos eram muito ricos e os pobres, muito pobres.



Nós morávamos em uma pequena casa no interior de São Paulo: eu, pai, mãe e um irmão mais novo. Ele era muito levado, mas um bom e carinhoso menino. Um sonhador.


Levávamos uma vida muito humilde e raramente saíamos de nossa casinha. As casas eram afastadas umas das outras e víamos poucas pessoas durante a semana. Não íamos à escola, já que meus pais, analfabetos, não davam muito valor aos estudos, diziam ser coisa de rico. Eles nos deixavam em casa, nos protegiam e garantiam o sustento, sem pensar no amanhã e nas consequências disso.


Certo dia, brincando perto de um poço de água, meu irmão mais novo desequilibrou-se e caiu dentro dele. Infelizmente, como não havia ninguém por perto para ajudá-lo, acabou se afogando e desencarnando, sem que pudéssemos tentar socorrê-lo.


Estávamos somente eu e minha mãezinha em casa para cuidar dele. Meu pai havia saído para vender algumas coisas, a fim de trazer mantimentos para nossa família. Ao retornar e entrar em nossa casa, minha mãe estava distraída preparando o jantar. Meu pai me cumprimentou na sala e foi ter com minha mãe. Ela o abraçou com ternura e levou um susto quando ele perguntou pelo meu irmão.


Fazia um tempo que ela não o via, a última vez ele estava correndo atrás dos pássaros no quintal. Meu pai saiu chamando por ele, percorrendo a casa e logo percebeu que ele não estava.


Começaram a chamá-lo pelo quintal e meu pai me deu uma bronca por não estar fazendo o mesmo. Na verdade, eu achava que ele estava aprontando alguma, escondido em algum lugar, pois já havia feito essa brincadeira antes.


Conforme o tempo foi passando, começamos a ficar preocupados, pois realmente não o estávamos encontrando. Procuramos em toda parte, chamamos e gritamos, mas ele não respondeu.


Minha mãe começou a ficar apavorada com meu pai a cobrando pelo sumiço do menino. Dizia que ela ficava em casa justamente para cuidar das crianças e que aquilo não poderia ter acontecido. Onde ela estava com a cabeça para não perceber o sumiço do menino?


Meu pai então foi em direção ao poço. Quando minha mãe percebeu, ficou em choque, só de imaginar seu caçula dentro daquele lugar cheio de água.


A tampa do poço estava aberta, pois era esse o costume, só a fechavam no final do dia. Meu pai se inclinou para tentar enxergar, mas a escuridão não permitiu. Decidiu então buscar uma lamparina que estava na sala. Amarrou-a em uma corda e a desceu com cuidado, iluminando o interior daquele poço.


Quando estava chegando perto da água, meu pai pôde ver o corpo do meu irmão boiando de cabeça para baixo na água. Ele gritou pelo nome de minha mãe e disse que o menino estava lá dentro morto.


As pernas de minha mãe bambearam e ela caiu inconsciente. Eu, também assustado, não sabia o que fazer, se acudia minha mãe ou corria até meu pai, que naquele momento estava desesperado.


Corri para atender às necessidades de minha mãe. Meu pai pegou o cavalo e saiu em disparada. Imaginei que fosse buscar ajuda. Em poucos minutos ele retornou com mais alguns vizinhos que ajudaram a tirar o corpo sem vida do meu irmão de dentro do poço.


Ele realmente havia morrido afogado dentro do poço. O desespero tomou conta de todos e aquele tormento parecia não ter fim. Nos dias seguintes, sepultaram meu irmão, depois disso nossa vida nunca mais foi a mesma.


Meu pai passou a beber em excesso e todas as vezes que ficava embriagado culpava minha mãe.


Minha mãe ficou muito doente e não tinha mais vontade de viver. Já se sentia culpada pelo ocorrido e o julgamento do meu pai a afundou em uma depressão terrível. Eu assistia a tudo aquilo de mãos atadas.


Via meu pai acabando com sua vida e tudo que tinha por conta do vício em álcool, e minha mãe estava morrendo, sem condições de se levantar da cama. Eu fazia tudo por ela, até o dia em que ela partiu, mais ou menos dois anos depois da morte do meu irmão.


Meu pai durou mais alguns anos, pois depois da morte da minha mãe, se entregou de vez ao vício. Posto que também sentia culpa pela morte dela. Morreu totalmente desgostoso da vida.


Eu fui crescendo sem muita expectativa de vida. Me virava como dava para conseguir uns trocados, já que não tinha mais ninguém, muito menos família, para ter um mínimo de amparo.


Levado por essa tristeza e falta de propósito na vida, decidi findar o meu sofrimento, acabando com minha vida física. Amarrei uma corda no telhado da varanda e me enforquei aos dezoito anos.


Triste engano, imaginar que findaria o sofrimento. Depois que desencarnei, fui parar em um lugar horrível. Onde muitos haviam desencarnado da mesma forma que eu, ou seja, tirando a própria vida. Todos ali eram suicidas.

Era impressionante estar naquele lugar. Jamais imaginei que algo parecido pudesse ocorrer. Meu sofrimento era muito pior agora. Sentia mais dor, angústia, medo e a tristeza era avassaladora. Porém, agora, eu não tinha mais como me livrar daquilo, não tinha como me matar, pois já estava morto e o sofrimento havia aumentado significativamente. Que coisa horrível.

Anos se passaram e eu me arrependi profundamente pelo ato que cometi contra minha própria vida. Agora tinha pleno conhecimento de que a morte não existia e que tirar a própria vida não alivia o sofrimento, muito pelo contrário, intensifica, pois você percebe que foi em vão.


Com o arrependimento sincero e verdadeiro, o auxílio chegou e eu fui resgatado. Não tive o prazer de estar com meus pais no primeiro momento, pois eles também haviam acabado de passar por um momento de dificuldade e conscientização.


Contudo, meu irmãozinho, que já não era mais uma criança, me visitava todos os dias, me dando vários conselhos e fortalecendo minha vontade de me recuperar rapidamente para que pudesse sair daquele lugar.


Pouco tempo depois, eu já estava recuperado e havia tomado consciência de tudo. A vida estava me dando uma nova oportunidade depois de tanto sofrimento e quanto mais eu entendia o significado de cada dor e sofrimento que somos submetidos, mais compreendia o erro que havia cometido.


Tudo fazia parte de um processo de aprimoramento e fortalecimento do meu espírito para que eu cumprisse minha missão, meu propósito, mas eu interrompi toda a programação por não estar mais suportando carregar minha cruz.


Hoje, vivendo no mundo dos espíritos, sigo meu aprimoramento constante, junto com os da minha família, e em breve retornaremos com um novo propósito que espero cumprir.


Digo a vocês, a morte não existe. O suicídio é uma ilusão. O que findamos é somente a nossa vida orgânica do nosso corpo perecível. Nosso espírito é imortal e jamais irá morrer.


Quando tiramos a nossa própria vida a fim de fugir dos problemas ou de nós mesmos, na verdade, estamos piorando nossa situação perante a vida, pois tudo que passamos se faz necessário. Todo sofrimento serve como um buril que lapida nosso espírito para que possamos evoluir e expandir nossa própria luz. Nada é em vão, nada é por acaso e a vida não é injusta, nós é que não compreendemos isso quando passamos por dificuldades e não entendemos os motivos.


Viver na Terra é uma bênção e é o caminho mais rápido para nossa evolução. O sofrimento neste mundo é comum a todos os seres humanos e serve como lapidação do nosso espírito.

Que você possa refletir sobre isso e encaminhar essa mensagem a quem você pensar neste momento, para que todo ensinamento contido aqui toque seu coração e você possa despertar para o real sentido da vida, superar as dificuldades e aprender a amar.


NAVEGANTES DA ESPIRITUALIDADE

(Relato Espiritual).


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