Fui fraco, e o mal me arrastou pelo caminho da perdição. Deixei escapar a oportunidade de viver plenamente, aprender e colocar em prática o que era verdadeiramente essencial. Permiti-me ser seduzido pelas minhas fraquezas, entregando-me de corpo e alma aos prazeres mundanos, mergulhando na voragem de tentações sem fim.
Esses prazeres me proporcionaram uma vida aparentemente rica, na visão daqueles que enxergam apenas a superfície material. Possuía tudo o que alguém poderia desejar: casas suntuosas, carros luxuosos, a companhia de mulheres deslumbrantes e rios de dinheiro para viver a vida sem preocupações com o amanhã.
O dinheiro nunca escasseou, afinal, minha jornada terrena foi interrompida abruptamente aos 40 anos de idade. Não experimentei o casamento, nem a bênção da paternidade. Recusei-me a construir uma família, embora pretendentes não tenham faltado. Algumas eram de índole nobre, com sólida formação e origem respeitável, enquanto outras eram meramente interesseiras, ávidas por usufruir da minha fortuna, viajando e se entregando à farra com os recursos que eu proporcionava.
Meus dias eram repletos de compromissos, com ou sem a presença de amigos. A solidão em casa era insuportável; eu me sentia mais completo nas ruas, longe do olhar julgador daqueles que me viam como uma ovelha negra, indiferente às responsabilidades, interessado apenas em esbanjar a fortuna deixada pelo meu finado pai. Até mesmo minha própria família eu evitava. No entanto, minha mãe era uma exceção, pois sempre a amei e respeitei. Nunca lhe desrespeitei, mesmo nas noites em que eu retornava embriagado, não havia brigas nem irritação. Pelo contrário, quanto mais embriagado eu estava, mais afetuoso me tornava, chamando-a de minha rainha. Mas, infelizmente, eu não tinha tempo para ela, porque minha única preocupação era aproveitar tudo o que o mundo tinha a oferecer.
Meu destino trágico chegou em um acidente de moto, quando perdi o controle da máquina sob o efeito do álcool e minha cabeça colidiu com um poste. Minha motocicleta não sofreu grandes danos, mas o impacto foi tão intenso que partiu meu capacete ao meio. Naquele instante, experimentei a morte cerebral, enquanto meu coração continuava a bater. Meu espírito foi lançado para fora do corpo, mas permaneci lá, testemunhando a sequência de eventos que se desenrolavam diante dos meus olhos.
Vi meu corpo ser transportado para o hospital e senti a agonia de minha mãe ao me ver naquele estado vegetativo. Nenhum parente veio me visitar, mas alguns amigos dela ofereceram o apoio necessário naquele momento difícil.
Assisti à cirurgia de retirada dos meus órgãos, sofrendo com a sensação aterradora de que estavam arrancando partes de mim, mesmo sabendo que eu não estava mais vivo. Ouvi todas as conversas e procedimentos médicos, consciente da minha impotência.
Um ser espiritual que atuava no hospital começou a me observar desde minha chegada, embora eu não o percebesse na época. Ele só se tornou visível mais tarde, convidando-me para uma conversa. Nossa troca de palavras foi amistosa e esclarecedora. Segui seus conselhos e, sob a orientação de um irmão consolador, fui conduzido a um pronto-socorro espiritual.
Nesse novo plano de existência, comecei a me adaptar a uma vida completamente diferente, até que um dia, motivado por um impulso inexplicável, decidi partir em busca do meu pai. Ele ainda estava preso em um lugar sombrio chamado Umbral, desde o dia de sua morte. Incapaz de se desvencilhar dos apegos que tinha por minha mãe e pelos bens materiais que deixou para trás, ele carregava um peso insuportável por suas falhas, apesar de ter sido um homem de caráter íntegro.
Quando finalmente o encontramos, ele estava confuso e desorientado, incapaz de me reconhecer no início. No entanto, após receber um toque de energia vital de um irmão espiritual que nos acompanhava, seus olhos se iluminaram de reconhecimento. Lágrimas rolaram por seu rosto enquanto ele finalmente me abraçou.
Com muito esforço, convencemos meu pai a seguir conosco. Desde então, temos estado juntos, aprendendo e trabalhando lado a lado. Nossa relação se fortaleceu, e hoje não concebo outra existência sem ele como meu pai. Embora desconheçamos como e quando uma nova oportunidade surgirá, permanecemos unidos, aguardando a chegada de minha mãe, que em breve desencarnará, para traçarmos novos planos juntos. Confiamos na providência divina, cientes de que sempre cuidará de nós.
Compartilho minha história repleta de emoção, na esperança de que possam compreender que a vida não se resume apenas à busca pela prosperidade material e ao seu desfrute. Precisamos aprender com as circunstâncias e elevar nossa moral espiritual. Tenho plena consciência de que minha morte não foi em vão, pois, por meio dela, outros receberam uma nova chance de viver, graças à doação dos meus órgãos. No entanto, gostaria de estar vivo, com a sabedoria e maturidade que adquiri após minha jornada terrena, pois sei que teria a capacidade de fazer muito mais por mim e por todos à minha volta.
NAVEGANTES DA ESPIRITUALIDADE.
(Relato Espiritual)
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