Na minha última vida na Terra, fui um escravo, e até hoje carrego em minha essência as lembranças de um tempo de grande sofrimento e evolução espiritual, no final do século 18.
Nossa existência como escravos consistia em servir aos senhores de engenho e fazendeiros, que na maioria das vezes não se preocupavam com nossas vidas, mas sim com a quantidade e qualidade da produção.
Na fazenda onde eu morava, no sertão da Bahia, nossa mão de obra era utilizada para semear, cultivar e colher café. Nosso senhor era um dos maiores produtores de café do Brasil, e éramos numerosos em sua propriedade.
Cheguei para trabalhar naquele lugar vinte anos antes do meu falecimento. Originário da África, fui vendido como escravo aos europeus, que me enviaram ao Brasil em um navio onde muitos morreram durante a viagem, para trabalhar para os brancos ricos. Recebíamos apenas um alojamento extremamente precário, conhecido como senzala, e uma alimentação miserável, composta por alguns grãos, farinha e os restos dos animais que os patrões desperdiçavam.
Não tínhamos direito a nada e não podíamos sequer reclamar. Conforme fomos aprendendo o idioma local, muitas vezes eu ouvia os senhores passando montados entre nós para verificar o trabalho, dizendo: "preto não fala, preto só trabalha", e nós não podíamos abrir a boca. Tínhamos muito medo deles, que adoravam mostrar seu poder e autoridade, castigando meu povo com chibatadas, punições e muitos outros abusos.
Mesmo não aceitando essa situação, fui me acostumando. Sempre fui um homem tranquilo e em paz, mas desde que nasci, nossa vida era assim. Meu pai, minha mãe e meus irmãos foram todos comercializados como escravos, e não tínhamos poder para nos opor a isso. Era assim que o mundo funcionava. E não éramos apenas nós, negros, os escravizados; em outras partes do mundo, pessoas de diferentes etnias também passavam pelo mesmo destino. Porém, naquela época, não tínhamos esse conhecimento.
Mesmo vivendo essa escravidão, trabalhando de sol a sol, sem tempo de descanso justo para que pudéssemos usufruir da vida como trabalhadores comuns, na senzala onde passei meus últimos vinte anos, fiz muitos amigos, e um deles foi o Atache. Ele me acompanha até hoje.
Desencarnei aos 36 anos de idade, vítima de uma doença da época que causava febre alta, dores no corpo, cansaço extremo, manchas e bolinhas vermelhas na pele que infeccionavam e doíam muito. O nome dela é Varíola. Uma doença já erradicada no mundo moderno. Foram dias de muita dor e sofrimento, mas meu amigo cuidou de mim até meu último dia.
Não tínhamos acesso a médicos. Nossos cuidados e remédios ficavam a cargo dos mais velhos, que haviam enfrentado esse tormento por mais tempo que os outros, passando por muitas experiências e se tornando sábios para nós.
Eles conheciam a medicina milenar das ervas e nos auxiliavam em nossas necessidades físicas. Quando os senhores percebiam que estávamos muito doentes e que poderíamos prejudicar os outros, nos afastavam e nos isolavam para evitar o contágio. Se não fossem por esses corações abnegados e caridosos, a maioria de nós passaria os últimos dias de vida abandonada.
Os animais eram tratados e cuidados melhor do que nós. Tinham as melhores rações e recebiam todos os cuidados médicos necessários para que vivessem mais tempo saudáveis. Um cavalo de raça naquela época era mais caro e dava mais custo que um escravo.
Quando desencarnei, minha transição foi tranquila e não precisei expurgar sentimentos destrutivos em zonas de sofrimento. Fui resgatado por amigos do plano espiritual e levado a uma aldeia linda, repleta de plantas, flores e frutos dos quais podíamos nos alimentar sem culpa ou receio. Era possível colher uma fruta diretamente do pé e no dia seguinte, outra estaria no mesmo lugar. Um lugar encantador, com uma atmosfera energética maravilhosa.
Tive que me adaptar à nova vida espiritual e, graças a Deus, contei com o auxílio de excelentes mentores, aos quais sou grato até hoje.
Em pouco tempo, estava totalmente adaptado e preparado para trabalhar. Meu primeiro trabalho, escolhido por mim, foi resgatar meus irmãos negros que se encontravam nas zonas de sofrimento, nutrindo ódio, rancor e ressentimento contra aqueles que os escravizaram.
A maioria passou por isso. Sofremos muito durante a vida e dificilmente um de nós desencarnava em paz. Eu fui um dos poucos, mas porque minha essência era assim. Sempre aceitei a vida com resiliência e resignação. Jamais perdi minha fé de que dias melhores viriam.
Resgatei muitos irmãos e libertei muitos homens brancos que antes escravizavam, mas no plano espiritual haviam se tornado escravos e estavam passando por sofrimentos inimagináveis. Aqueles que um dia sofreram e carregavam ódio no coração faziam eles sofrer tudo que eles mesmos sofreram e muito mais. Era lamentável o estado daqueles espíritos. Tanto de um lado como do outro.
Muitos, com o passar do tempo, depois de aprenderem sobre a dor que causaram, clamavam por misericórdia divina e se transformavam. No entanto, outros nutriam em seus corações ainda mais ódio em relação ao nosso povo e prometiam vingança, na esperança de renascerem um dia e voltarem a ser escravizadores.
Tenho conhecimento de alguns irmãos que viveram várias gerações nesse ciclo. Enquanto na matéria eram escravizados, na espiritualidade escravizavam seus algozes. Eram ciclos de sofrimento causados por ambas as partes.
Resgatei muitos e perdoei outros. Hoje, trabalho na espiritualidade ainda conscientizando espíritos sobre o perdão e o arrependimento. Sou muito respeitado e valorizado pelo trabalho que desenvolvo junto a uma equipe que montei. Amo essa missão e não tenho a intenção de retornar à Terra para viver na carne tão cedo. Tenho muito o que fazer aqui e espero que um dia a humanidade aprenda a amar uns aos outros como iguais, para que desenvolvam dentro de si o sentimento do amor verdadeiro, sem diferenças étnicas.
O meu relato espiritual narra uma época de sofrimento, na qual imperava o materialismo sem humanidade, e isso causava revolta, dor, sofrimento e principalmente o ódio.
Minha intenção é mostrar que embora os tempos estejam mudando, ainda existem formas modernas de escravidão. Hoje, as pessoas são escravas da modernidade, dos sistemas corruptos, da busca desenfreada pelo materialismo, de seus vícios e de seus próprios desejos mundanos, que os aprisionam em prisões invisíveis, mais poderosas e encarcerantes do que as experiências do passado.
Naquela época, nossos corpos eram escravizados e aprisionados pelo medo e pelo poder dos mais ricos, mas nossas mentes eram livres. Hoje, os corpos dos seres encarnados estão livres, mas as mentes estão encarceradas. Reflita sobre isso.
Reflitam mais sobre suas atitudes, sobre seus conceitos e principalmente sobre a vida que estão levando de forma alienada permitindo que o mundo determine seus próximos passos, como um pastor que guia suas ovelhas.
Não se permita ser um escravo do mundo. Seja dono de si mesmo e do seu destino. Descubra quem você é e o que realmente precisa, pois tudo está à sua disposição e ao seu alcance. Somente as pessoas que não enxergam isso sofrem com os tormentos do mundo.
Se você fizer isso, tornando-se dono de si mesmo, das suas escolhas e, consequentemente, do seu destino, viverá uma vida plena e consciente de que colherá o que plantar. O mundo pode estar sofrendo com guerras, desigualdade, fome e doenças, mas você estará consciente do seu propósito na sociedade moderna.
Alcance o despertar consciencial. Busque sua espiritualização. Vigie seus pensamentos. Elevem suas vibrações e se conectem com o mais alto. A vida jamais será fácil de ser vivida, mas quanto mais você estiver conectado com Deus e consigo mesmo, menos irá sofrer.
A escravidão só irá acabar quando as pessoas perceberem e souberem usar a força que têm. Todos somos capazes de mudar nossas histórias, basta apenas aprendermos como, mas para isso precisamos nos libertar das correntes do mundo que nos prendem ao que ainda entendemos que precisamos ter ou viver.
E lembre-se, com fé inabalável, coragem para enfrentar os desafios, disciplina para manter-se firme no caminho e determinação para alcançar seus objetivos, você pode superar qualquer obstáculo e construir a vida que deseja viver. Escolha é sua de não se submeter a essa escravidão moderna.
NAVEGANTES DA ESPIRITUALIDADE. (Relato Espiritual).
Comments