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ALÉM DAS TRINCHEIRAS: UMA JORNADA ESPIRITUAL NA GUERRA

Estávamos em 1944, no auge da Segunda Guerra Mundial. Diariamente, as notícias chegavam trazendo relatos de um conflito gigantesco, países poderosos se enfrentando. Muitos apontavam para Hitler como o grande responsável por tudo, mas a verdade é que a responsabilidade não era apenas dele. Havia muitos outros que apoiavam e se comprometiam com ele nessa terrível guerra. Se não fosse por essas pessoas, ele não teria obtido a força necessária para desencadear um conflito que ceifou a vida de mais de sessenta milhões de pessoas.



Daqui do Brasil, acompanhávamos com apreensão os desdobramentos da guerra. Eu já servia ao exército do nosso país, como um combatente experiente e com alta patente. Estávamos na expectativa de tomar posição em um dos lados do conflito, e certamente seria ao lado dos americanos e seus aliados.


O dia do chamado para o combate finalmente chegou e, surpreendentemente, muitos ficaram felizes por terem sido escolhidos. Para eles, estar na guerra era sinônimo de glória, algo raro para um combatente brasileiro, pouco habituado a entrar em conflitos armados. O Brasil enviou mais de vinte mil combatentes em um gesto de apoio aos americanos e aos aliados, unindo-se ao propósito conjunto de enfrentar a Alemanha nazista.


Ao chegarmos ao posto de comando americano na Itália, fomos recebidos calorosamente, porém a tensão era palpável e eu não estava habituado àquela atmosfera. Não falávamos o idioma deles, mas tínhamos um intérprete à disposição para garantir que não houvesse dúvidas quanto às estratégias dos norte-americanos e dos aliados.


Eles eram diferentes, pareciam ter nascido para a guerra. Mais patriotas e determinados a lutar por sua nação e bandeira. Demonstravam um grande amor pelo que defendiam.

Após meses de treinamento, adaptação e espera pelo momento certo, minha unidade foi designada para uma missão crucial. Nosso objetivo: retomar a cidade de Massarossa, na Toscana, ocupada pelas tropas alemãs.


Já tínhamos conhecimento de que eles estavam exterminando muitos poloneses e judeus, o que para nós era a parte mais terrível da guerra, pois a maioria dessas pessoas eram inocentes. Fiquei mais de um mês em combate, lutando, disparando, enfrentando perdas. Era um local de difícil acesso e as tropas alemãs estavam bem preparadas, aguardando nossa chegada.


Em um desses dias, sofremos muitas baixas. Infelizmente, eu fui uma delas. Desencarnei após pisar em uma mina terrestre enterrada. Nessa guerra, as minas eram muito comuns e causavam grande temor em todos nós, testemunhando muitos perderem membros ou suas próprias vidas devido a elas. A explosão foi súbita e devastadora.


Apenas ouvi o estrondo e, em seguida, não senti mais nada. Meu corpo físico foi destruído pelo artefato explosivo, mas meu corpo astral, sem perceber que não estava mais ligado à carne, continuou a correr, enquanto eu acreditava estar ainda vivo.


Foi quando me deparei com um soldado alemão. Assustado, fiquei imóvel, acreditando que aquele momento seria o instante da minha morte. Minha arma não estava em minhas mãos e ele era o único armado. Ergui as mãos em sinal de rendição. Ele se aproximou, passando diretamente por mim, como se fosse um fantasma. No entanto, percebi que o verdadeiro fantasma ali era eu. Descobri, de forma terrível, que havia falecido na guerra.

Fiquei aterrorizado ao perceber vários outros na mesma condição que eu: mortos na guerra, tanto de um lado como do outro. Havia espíritos brigando, convencidos de que ainda estavam vivos, mas todos nós já estávamos mortos. Naquele ponto do combate, o conflito cessou com a vitória momentânea dos inimigos. Encontrei muitos dos meus companheiros desencarnados e perdidos, outros atordoados, feridos, ainda sentindo as dores da batalha, mas todos compartilhávamos a mesma condição: estávamos mortos.


Foi terrível. Não há palavras para descrever os eventos que se seguiram, de modo que todos pudessem entender e aceitar a nova realidade.


Entre os destroços da guerra, algo surpreendente ocorreu. Alguns homens e mulheres vestidos de branco surgiram, como anjos entre a carnificina, para ajudar os espíritos merecedores. Mas, houve aqueles que se recusaram a aceitar essa ajuda e foram arrastados por criaturas sombrias, tão assustadoras que desafiam qualquer descrição.


Foi uma cena de resgate e caos, de luz e trevas, que se desdobrou diante de nós, enquanto éramos conduzidos para destinos diferentes além da vida.


Foi terrível e profundamente triste. Fui resgatado por esses seres vestidos de branco, sem compreender para onde me levavam. Finalmente, fui levado para um hospital espiritual em uma região umbralina acima do Brasil, onde recebemos todo cuidado necessário, eu e meus companheiros. Fomos acolhidos com imenso amor e compaixão, recebendo o amparo que tanto necessitávamos.

Com o tempo, fui compreendendo minha condição e me desvinculando das coisas mundanas e materiais. Não possuía mais família, nunca me casei ou tive filhos, o que tornou esse processo mais fácil para mim do que para outros que deixaram para trás entes queridos e bens materiais. Hoje, atuo como trabalhador no plano espiritual. Embora pudesse ter retornado à matéria para continuar minha jornada evolutiva, optei por permanecer, dedicando-me ao auxílio daqueles que desencarnam em consequência das guerras do mundo.


Além de compartilhar minha história espiritual e a experiência de meu desencarne, desejo transmitir uma mensagem de paz para o mundo. As guerras, os conflitos motivados por interesses materialistas e egoístas, apenas ceifam vidas sem levar a lugar algum. Nada conquistado dessa maneira tem a força para perdurar com o tempo. Com o passar dos anos, perde seu valor ou é restaurado pela justiça divina de alguma forma.


O mundo e a humanidade precisam irradiar mais paz e amor. Pode parecer um clichê, mas é somente ao elevarmos nossas vibrações e as do nosso planeta que poderemos acabar com o sofrimento humano e impulsionar nosso crescimento espiritual como um todo.


Não há caminho para o crescimento e expansão de nossa luz que não passe pela prática do amor, algo que todos os espíritos, encarnados ou não, compreendem. O desafio está no fato de que muitos ainda não despertaram para o verdadeiro significado da existência: amar o próximo como a si mesmo.

 

NAVEGANTES DA ESPIRITUALIDADE

(Relato Espiritual)

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