O ano era 1879, um período em que o mundo começava a se transformar, com novas tecnologias industriais surgindo ainda de forma discreta.
Meu negócio prosperava e crescia a cada ano. Eu sabia administrar bem minha empresa e sempre valorizava meus empregados, algo raro em um tempo em que os empresários geralmente viam os trabalhadores como meras máquinas ou até mesmo como escravos.
Fora da empresa, eu tinha uma família linda. Era bem-sucedido e proporcionava à minha esposa e nossos três filhos uma vida confortável, com muitas regalias. Éramos felizes e unidos. Apesar de estar constantemente empenhado em fazer a empresa crescer, eu sempre fui um pai presente e amoroso. Gostava de estar em casa, compartilhando momentos com a família.
Certo dia, conheci um homem bem-relacionado, que tinha a postura de um empresário bem-sucedido. Ele já havia trabalhado em algumas grandes empresas, e decidi contratá-lo para trabalhar comigo. Esse homem tinha uma visão mais ampla do negócio; enxergava oportunidades e antecipava problemas com uma rapidez que, mesmo com minha longa experiência no ramo de tecelagem, eu não possuía.
Logo após sua chegada, implementamos algumas de suas sugestões e tivemos resultados imediatos. A produção aumentou, a empresa passou a operar em dois turnos, dobramos o quadro de funcionários e triplicamos o número de clientes. Antes dele, era como se eu vivesse acomodado numa bolha, satisfeito com o que já havia conquistado.
Com o passar do tempo, ele foi ganhando minha confiança. Como eu adorava passar tempo com minha família e ele era solteiro, começou a assumir algumas de minhas responsabilidades, o que me permitiu estar mais presente em casa.
Em pouco tempo, ele já dominava todas as operações. Gerenciava e coordenava a fábrica com maestria. Eu estava feliz; jamais havia ganho tanto dinheiro em toda a minha vida. A empresa faturava como nunca.
Após três anos trabalhando juntos, meu patrimônio havia crescido consideravelmente. Nesse período, ele havia conquistado minha confiança a ponto de se tornar um amigo pessoal. Com seu incentivo, decidi realizar o sonho de minha esposa de conhecer a Europa. Deixei tudo organizado na empresa, confiando plenamente que ele assumiria todas as responsabilidades como se fosse eu.
Foi uma viagem cara e longa, mas agora eu tinha alguém em quem confiar para cuidar dos meus negócios. Estávamos muito felizes. Fomos nós cinco e passamos mais de dois meses viajando. Foi uma das melhores experiências de nossas vidas, e, ao voltarmos, já começávamos a planejar a próxima viagem para o ano seguinte.
Contudo, ao voltarmos ao Brasil e tentarmos retomar nossa rotina, tudo mudou. Aquilo que até então era só alegria e felicidade se transformou em tormento e desespero. Meu amigo, meu braço direito, o homem em quem eu depositara toda a minha confiança, havia nos traído.
Naquela segunda-feira, acordei cedo, fiz meu desjejum como de costume, li meu jornal e segui rumo à empresa. Ao chegar, encontrei dois seguranças no portão. Estranho, pois nunca tivemos seguranças antes, mas imaginei que algo pudesse ter acontecido, e que ele tivesse tomado essa medida de precaução.
Para minha surpresa, os seguranças não me deixaram entrar. Amistosamente, expliquei que eles deviam estar cometendo um engano e me identifiquei. Porém, eles, de forma grosseira e ameaçadora, responderam que sabiam muito bem quem eu era — e que, ainda assim, minha entrada estava proibida.
Perplexo, pedi que chamassem meu amigo. Eles responderam friamente que ele estava ocupado e não poderia me atender, avisando que eu voltasse em outra hora. Assustado e confuso, protestei, afirmando que era um absurdo me impedir de entrar na minha própria empresa. Foi então que eles disseram, com todas as letras: "Essa empresa não é mais sua."
Fiquei pálido e quase desmaiei. Minha maleta escorregou de minhas mãos trêmulas. Reunindo o que me restava de forças, perguntei: "Então, de quem é?" — Eles responderam friamente, mencionando o nome do meu "amigo".
Naquele momento, senti como se uma faca atravessasse meu peito. Eu havia sido traído, apunhalado pelas costas. Ele aproveitará minha viagem e a confiança plena que eu lhe dera para levar meu negócio. Eu não queria acreditar. Transtornado, e mesmo sem ser um homem violento, tentei invadir os portões. Os seguranças, além de me barrar, ainda me deram uma surra que me deixou ferido e humilhado.
Voltei para casa desolada, carregando um peso de vergonha que me esmagava. Como eu pude ser tão ingênuo a ponto de perder tudo o que construímos com tanto esforço ao longo dos anos? Não sabia como contar a verdade para minha esposa, que também confiava profundamente nele. Ao entrar em casa, ela se assustou com os ferimentos e instantaneamente começou a limpar meus machucados.
Sentado em uma poltrona, enquanto ela cuidava de mim, sentia o desespero tomar conta dos meus pensamentos. Comecei a chorar convulsivamente, incapaz de conter as lágrimas ou de controlar minhas emoções. Minha esposa, sem entender o que havia acontecido, mas demonstrando solidariedade, escolheu não me perguntar o que eu havia enfrentado para estar naquele estado, tanto físico quanto emocional.
Ela cuidou de mim, e, depois de tomar um copo de água com açúcar, fui me acalmando aos poucos. Quando finalmente consegui controlar meu pranto, balbuciei algumas palavras para minha esposa, contando que havia sido traído e que nosso amigo tinha tomado tudo o que era nosso. "Fui surrado, humilhado e proibido de entrar na minha própria empresa."
Minha esposa ficou atônita; teve que se sentar para não desmaiar. Eu mesmo não tinha forças para ampará-la. Ao ver minha destruição e percebendo que precisava ser forte, ela se levantou, pegou a mão e disse que ainda não estava tudo perdido. Ela sugeriu que naquele dia descansássemos e refletíssemos sobre o assunto, mas que, nos dias seguintes, procuraríamos um advogado competente para nos orientar e lutar para recuperar nossa empresa.
Dois dias depois, fomos ao escritório de um advogado famoso e narramos todos os acontecimentos. Levei todos os documentos que eu havia assinado e que davam poderes ao meu "amigo". Após analisar cada papel, o advogado nos deu um parecer nada animador. Com muita sinceridade e compaixão, sensibilizado com nossa situação, ele nos explicou que, pelos documentos, eu tinha realmente dado poderes suficientes para que ele assumisse tudo. O traidor, certamente orientado por um advogado cúmplice, havia costurado tudo de uma forma que dificultaria, quase impossibilitaria, desatar aqueles nós.
Aquela foi a segunda facada. Lembrei-me, com amargura, que nem sequer lerá os documentos que assinei — todos eles elaborados pelo próprio traidor.
Mesmo diante de um cenário quase irreversível, decidi lutar. Entraríamos na justiça para tentar retomar minha empresa. O advogado foi enfático, dizendo que era o melhor em casos como o nosso, mas que via pouca esperança. A teia de conspiração estava firmemente costurada para que não se rompesse.
Decidi contar com a sorte e tentar uma última cartada. Paguei uma fortuna ao advogado para que, ao menos, tentasse. Ele, demonstrando profissionalismo, deixou claro que usaria todos os recursos e esforços possíveis para reverter aquela situação.
Infelizmente, os anos se passaram e não conseguimos. Perdemos também na justiça. Não havia mesmo como retomar o que era meu. E o mais doloroso foi ver que ele havia feito a empresa prosperar; agora, trabalhando em três turnos, produzindo dia e noite sem parar. Haviam comprado um novo galpão e mais máquinas para atender às demandas. Ele estava se tornando milionário.
O desgosto, a tristeza e a depressão tomaram conta de mim. Deixei de ser aquele homem forte e determinado; me transformei em um trapo humano, um ser consumido pelo arrependimento, pela culpa e pelo ódio. Cheguei até a culpar minha esposa, dizendo que tudo isso só aconteceu porque eu quis agradá-la e realizar seu sonho. Claro que fui insensato e insensível. Ela estava sofrendo tanto quanto eu.
Pouco mais de dez anos depois, após contrair uma doença gravíssima, que só descobri em estado avançado e terminal, desencarnei, deixando minha esposa sob os cuidados dos nossos filhos, que já eram adultos e bem-sucedidos. Pelo menos isso conseguimos fazer por eles.
Assim que desencarnei, passei a vagar no mundo espiritual, completamente ignorante do que se passava. Não tinha a menor ideia de onde estava ou do que estava acontecendo comigo. Despertei em um lugar sombrio, frio, escuro e lamacento, cercado de árvores secas e cavernas sombrias. Naquele momento, pensei que estava no inferno, pois essa era a única referência que eu conhecia. Sabia que os bons estão para o céu, enquanto os maus estão para o inferno. Embora eu não me considerasse uma pessoa má, o ódio que eu alimentava parecia ter me levado àquele lugar. E, ao pensar assim, deixei esse sentimento crescer ainda mais, pois aquele homem, além de destruir minha vida e minha família e tomar minha empresa, também parecia ter roubado minha chance de um dia estar no paraíso.
Com essa ideia fixa, decidi ir atrás dele, propondo a infernizar sua vida. Já que eu era agora um espírito, faria de mim uma assombração em seu caminho. Fixando meus pensamentos nele, de repente, e sem saber como, me vi ao seu lado, dentro da empresa.
Tudo ali era muito diferente: mais sofisticado, moderno. Admirei a transformação, ainda que com desprezo. Depois de observar tudo, parte para cima dele como uma fera, como se ele fosse sofrer um ataque fatal. Contudo, ao tentar tocá-lo, passei direto por seu corpo, descobrindo que, em minha condição espiritual, não poderia atingi-lo fisicamente. Percebi, no entanto, que ele sentiu algo — um leve mal-estar, como se uma vertigem o tivesse atingido no momento da minha investida.
Ele cambaleou, tirou os óculos, pegou um lenço do paletó e enxugou o suor que escorria de seu rosto. Sentou-se e pediu a sua assistente que lhe trouxesse um copo de água, o que ela prontamente fez. A assistente, que parecia íntima e preocupada, disse que ele precisava descansar, pois estava trabalhando demais e comendo pouco. Ele apenas concordou, meneando a cabeça positivamente em silêncio.
Decidi que o acompanharia dali em diante. Não saí mais do seu lado. Logo percebi que, quanto mais próximo eu ficava, mais forte eu me sentia, enquanto ele enfraquecia. Muito tempo depois, entendi que estava o vampirizando, roubando-lhe a energia, absorvendo sua força vital para que eu, mesmo em espírito, pudesse continuar vivendo na materialidade, preso ao mundo dos vivos.
Notando essa diferença, passei a consumi-lo energeticamente. Semanas depois, seu rosto exibia uma feição cansada, desnutrida e abatida, um sinal claro de que minha intenção estava funcionando. À medida que ele ficou mais fraco, eu comecei a ter voz dentro de sua mente. Ele passou a se lembrar de mim com mais frequência, do golpe que me deu e do mal que fez à minha família. Ele era um homem frio, sem remorso ou culpa, mas eu estava tentando despertar esses sentimentos nele, invadindo seus pensamentos com palavras rudes e agressivas, lembrando-o de que tipo de pessoa ele era e do erro que havia cometido contra um homem justo.
Ele começou a absorver e alimentar-se daquelas energias negativas que eu induzia em seu espírito. Dia após dia, tornava-se cada vez mais vulnerável às minhas investidas. Eu me tornarei seu obsessor. Naquele tempo, desconhecia esse termo, mas era exatamente isso que eu fazia.
A cada dia eu me fortalecia mais. Meu ódio e a energia dele alimentavam minha sede de vingança. O único propósito que eu tinha era destruir sua vida, assim como ele destruiu a minha.
Com o tempo, comecei não apenas a influenciar seus pensamentos, mas também a moldar suas vontades. Ele, que não tinha vícios, passou a beber. No começo, era uma dose aqui, outra ali, mas logo estava bebendo todos os dias. Eu o incentivava a tomar mais um gole, e mais um, e mais outro. Conforme ele caia na embriaguez, sua vibração enfraquecia, o que me permitiu acessá-lo ainda mais intensamente. Ele chegou até me ver. Tomou um susto, cambaleou, rolou pelo chão, bateu a cabeça, machucou-se levemente e correu para tomar um banho, tentando se recompor.
Ali, ao seu lado, eu ouvia os seus pensamentos: “O que está acontecendo comigo? Estou enlouquecendo? Estou vendo gente morta? Isso não é possível, morto é morto. Preciso procurar ajuda!”
Eu ria sem parar, dava gargalhadas, com uma satisfação que jamais havia experimentado. Vingança nunca pareceu tão doce.
Até que um dia, ele, muito bêbado, ainda do lado de fora da sua casa, recebeu minha intuição para ir ao poço e tirar um pouco de água. Seguindo minha ordem de forma robotizada, murmurou com a voz arrastada pelo álcool: “Vou tirar água do poço. Boa ideia. Assim não é preciso fazer isso amanhã cedo e posso ganhar mais alguns minutos de sono.”
No caminho até o poço, tropeçou várias vezes, tão bêbado que mal se mantinha de pé. Quando tentou tirar a tampa do poço, não conseguiu puxá-la como de costume. Estava fraco, entorpecido pela bebida. Percebendo que desistiria, novamente entrevi em sua mente, sussurrando que, em vez de puxar, ele deveria empurrar a tampa, pois assim teria mais força. Ele, obediente, começou a empurrar.
Com muita dificuldade, conseguiu deslocar a tampa até destampar a metade do poço. Aproveitei aquele momento e gritei em seus pensamentos: “Vamos, homem, tenha força, abra esse poço de uma vez!” Ele, obedecendo cegamente, tomou impulso e, com toda a sua força, empurrou a tampa. Mas, desequilibrado, caiu de cabeça para dentro do poço.
Até eu, que esperava ansiosamente por esse momento, fiquei surpreso com a rapidez do ocorrido. Ele atingiu a água, afundou. Não sei se a queda foi suficiente para ele bater a cabeça no fundo, em alguma pedra, ou se desmaiou ao bater na borda. Só sei que, quando seu corpo emergiu, já estava sem vida, boiando com o rosto virado para baixo.
Fiquei ali por um tempo, apenas para ter certeza de que ele estava morto.
Passei horas sentado à beira do poço, contemplando o corpo inerte lá embaixo. O dia começava a clarear quando algo inesperado aconteceu: ouvi sua voz vindo do fundo do poço, gritando por socorro. Tomei um susto, e, ao olhar para baixo, vi seu corpo na mesma posição, mas seu espírito agora lutava para se manter à superfície, ao lado do corpo sem vida.
Nunca imaginei presenciar algo assim. Aquilo tudo era novo para mim. Em pouco tempo, compreendi que ele havia morrido como eu e que seu espírito acabara de se desprender do corpo.
Perguntei-lhe se queria ajuda de forma sarcástica. Quando ele me viu, tentou se esconder, mas não havia onde ir. Aterrorizado, acreditou estar diante de uma assombração. Assim que percebi seu medo, decidi provocá-lo, dizendo que eu era exatamente isso: uma assombração que voltara para me vingar.
Apavorado, ele começou a pedir perdão, dizendo que estava arrependido. Explicou que só tivera coragem de fazer o que fez porque eu era limitado em minha visão e que, em minhas mãos, aquela empresa jamais teria chegado ao nível em que ele a levou. Confessou que, embora soubesse que cometera um erro, ao menos transformara a empresa e criara muitos empregos.
Eu gargalhei, respondendo com sarcasmo: “Então você quer que eu acredite que me deu um golpe e tomou minha empresa só para ver ela prosperar e gerar empregos?”
Com uma sinceridade inesperada, ele respondeu que não. Admitiu que queria o poder e o status, pois o dinheiro pouco importava, já que eu o pagava bem. Queria mesmo era o meu lugar, ansiando se tornar um dos maiores empresários da cidade, convencido de que o negócio tinha esse potencial nas mãos dele, ainda que, para isso, precisasse apunhalar um amigo.
Fiquei surpreso com sua resposta. Permaneci em silêncio por um tempo. Depois, começamos a discutir e, em seguida, relembramos o passado — nosso encontro, tudo o que construímos juntos. A conversa foi dura, dolorosa e despertou sentimentos intensos.
O tempo na espiritualidade corre de forma diferente. Sem que percebêssemos, passamos dias conversando. Só me dei conta da passagem do tempo porque, sentiram sua falta e foram até sua casa investigar seu desaparecimento. No início, acharam que ele havia tirado alguns dias para descansar, devido ao estado cansado e estranho em que ele andava. Mas, sem seu retorno, começaram a suspeitar que algo grave havia acontecido. Finalmente, arrombaram os portões, pois o odor de seu corpo em decomposição já podia ser sentido de longe.
Encontraram o corpo dentro do poço. Seu espírito ainda estava ali, preso. Somente quando desvencilhou-se completamente do corpo, ele emergiu, subindo até a superfície onde eu estava. A primeira coisa que fez foi se ajoelhar aos meus pés, chorando e pedindo perdão, dizendo que estava completamente arrependido e que, um dia, encontraria uma forma de me recompensar.
Naquele momento, seu arrependimento era tão genuíno e sublime que uma luz branca começou a irradiar de seu peito em minha direção, despertando em mim uma emoção profunda. Percebi que já não nutria aquele ódio que me consumia. Decidi, então, perdoá-lo. Assim que o fiz, dois espíritos iluminados, que nos acompanhavam invisíveis até então, apareceram e o ergueram, convidando-o a segui-los. Ele aceitou de imediato.
Naquele mesmo instante, estenderam suas mãos para que eu também os acompanhasse. Contudo, não me senti digno. Envergonhado por meus sentimentos, pensamentos e atitudes, recusei. Por mais que ele fosse quem era, eu não tinha o direito de causar sua morte, direta ou indiretamente.
Com a mente tomada por milhões de pensamentos, saí correndo. Atravessei a rua e logo me vi de volta àquela zona de sofrimento, como se retornasse ao próprio inferno. Mas, dessa vez, já não era o ódio que me consumia. Eu havia realmente perdoado. Agora, era a culpa que me devastava.
Passei anos vagando por essas regiões de sofrimento, enfrentando ataques constantes de espíritos sombrios, até que, um dia, resolvi me esconder numa caverna escura e sombria. Ali, sem ninguém por perto, eu poderia ficar apenas com meus pensamentos.
A culpa me destruiu. Meu corpo espiritual estava reduzido a um trapo, sem forças sequer para me levantar. Foram tempos de sofrimento profundo. Certo dia, após alguns anos terrenos, vi uma luz intensa e ofuscante entrar em minha caverna. Instintivamente, fechei os olhos e gritei para que fosse embora e me deixasse sozinho. Nenhuma resposta veio.
Ouvi passos se aproximando, mas mantive os olhos fechados. Senti então uma onde de calor e uma mão tocando meu braço com carinho, e uma voz suave pedindo que eu abrisse os olhos e me levantasse. Aquele timbre era inconfundível. Era ele. Na mesma hora, pensei que tivesse vindo se vingar, e acreditei merecer cada segundo daquele sofrimento.
Depois de muita insistência da parte dele, abri os olhos. Lá estava ele, mas não havia ódio em sua face. Pelo contrário, somente amor, ele estava ali para me resgatar. Não acreditei no que estava vendo. Ele estava bem, bonito, iluminado, com uma aparência jovem e saudável, sem qualquer marca de sofrimento. Envergonhado, baixei a cabeça, evitando encontrar seus olhos.
Com um olhar sereno e um leve sorriso, ele ergueu minha face, segurando-a pelo queixo, e disse: “Vamos, meu amigo, chegou a hora de findar esse sofrimento. Você está cansado e já se martirizou o suficiente.”
No mesmo instante, respondi: “Eu destruí sua vida. Como pode querer me ajudar?” Com amor, ele respondeu: “Nós destruímos a vida um do outro, mas aprendemos com nossos erros, e em breve teremos uma nova oportunidade para acertar as coisas. Agora, quero que venha comigo.”
Dessa vez, fui eu quem caiu de joelhos e pediu perdão. Ele me ergueu, abraçou-me e disse que já havia me perdoado há muito tempo, mas que eu precisava me perdoar. Compreendi o que ele quis dizer; minha culpa estava me dilacerando.
Fomos juntos. Ele me ajudou muito no pronto-socorro e na colônia espiritual, onde me refiz energeticamente, mentalmente e psiquicamente. Adaptei-me bem e logo passei a servir, como ele. Nos aproximamos e hoje somos como irmãos, unidos pelas escolhas erradas do passado. Há carinho, amor e gratidão entre nós. Nossos erros nos despertaram espiritualmente, e isso foi nossa maior vitória.
Minha amarga vingança conseguiu destruir sua vida material, mas nada mudou em mim. Não aliviou meu fardo e nem meu sofrimento. Pelo contrário, aquilo me consumiu, e sofri ainda mais por anos, comprovando que a vingança não vale a pena. Ele teria pago suas dívidas de outra maneira, pois nada nesta vida passa impune. A justiça de Deus não falha, e, ao nutrirmos sentimentos de ódio e vingança, só prejudicamos a nós mesmos e aos que estão ao nosso redor.
Na colônia espiritual em que resido, embora eu não fosse cristão, passei a estudar o Evangelho. Aprendi com o Mestre Jesus que devemos perdoar “não apenas sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mateus 18:21-22). A libertação está no perdão. Ao perdoar, livramo-nos de sentimentos negativos que destroem nossa alma e nos afastam da verdadeira felicidade.
Espero que meu relato inspire reflexão sobre os sentimentos destrutivos que você possa estar nutrindo. É necessário perdoar e se perdoar, pois o ódio nos afasta do amor, e o arrependimento sincero e verdadeiro nos aproxima de Deus.
NAVEGANTES DA ESPIRITUALIDADE
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Maravilhoso!!!!