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AS LIÇÕES DA PERDA: DESCOBRINDO O VALOR DA FAMÍLIA

No início, não foi fácil. Até me acostumar com a minha nova realidade, passei por muita angústia e sofrimento.

Não entendia como a vida funcionava no além-túmulo e, até alcançar a compreensão, revoltei-me e tentei voltar à vida física por diversas vezes.

Eu amava viver como encarnado e não entendia os motivos pelos quais meu corpo sucumbiu e me fez abandonar a carne.


Sei que vivi uma vida com muitos excessos, mas tinha um corpo saudável que jamais tinha dado sinais de que não aguentaria aquela vida.


Certo dia, desencarnei; foi uma morte súbita, repentina e indolor. Muito rápida.

Quando percebi, já estava vivendo no astral e perdido em meus próprios pensamentos.

A revolta foi enorme, pois, por mais que não tivesse conhecimentos sobre a vida espiritual, tive lucidez após meu desenlace e logo percebi que não fazia mais parte do mundo material.

Enlouqueci. Surtei. Gritei, xinguei, blasfemei, mas nada mudou minha situação ou me fez voltar para a carne.


Fiquei anos revoltado e caminhando entre os vivos. Ficava um pouco na minha casa com minha família. Acompanhava meus amigos nas ruas, bares e baladas. Até viagens fiz com eles.


Ninguém notava minha presença, mas em muitas situações, enquanto eu estava ali ao lado deles e participando ativamente de tudo que faziam, se recordavam com muita tristeza da minha morte e, em outras situações, de momentos felizes e alegres que vivemos juntos.


Eu ria e chorava, mas me sentia bem por estar com eles. Preferia estar com eles do que imaginar qualquer outra coisa que pudesse viver naquela condição.


Passei anos assim. Até que meus amigos foram casando, constituindo família, deixando de viver a vida que eu gostava e passando a viver uma vida com mais responsabilidade.


Aquilo foi me desestimulando a continuar com eles. Então, diante desse novo cenário, passei a ficar mais tempo com minha família em casa.


Somente a partir daí passei a conhecer melhor meus familiares. Foi só no convívio com eles que notei o quanto meu pai era um homem sério, rígido e cheio de manias, mas honesto, respeitoso e trabalhador.


Minha mãe, uma mulher humilde de fala mansa, cuidadosa e extremamente dedicada à família, se preocupava com tudo e com todos, buscando sempre fazer o melhor pelo meu pai e minha irmã mais velha, que chegavam do trabalho e tinham tudo preparado com amor e carinho.


Muitas vezes os acompanhei durante as refeições, que não eram fartas, mas tinham o necessário, e eles jantavam juntos e muito felizes, ouvindo minha irmã compartilhar como havia sido o seu dia.


Algumas vezes, minha mãe se lembrava de mim e fazia algum comentário, demonstrando toda a sua saudade. Meu pai se mantinha em silêncio e não falava do assunto, e minha irmã buscava trazer uma boa lembrança, mas logo trazia outro assunto para alegrá-la.


Esses momentos foram me fazendo despertar. Fui percebendo que durante a minha vida eu não dei valor algum aos meus familiares. Preferia viver na rua, com aqueles que eu considerava amigos, pois gostavam de fazer as mesmas coisas que eu.


Deixava minha mãe sozinha em casa, não parava para jantar com eles, na maioria dos encontros em família, onde se reuniam outras pessoas, eu não estava, e quando estava, ficava louco para sair e encontrar os amigos da rua.


Não os valorizei, não convivi, e somente fui despertar para o verdadeiro significado de família depois que deixei a vida material.


Conforme fui despertando, passei a me arrepender dos momentos em que preteri o convívio com minha família para viver o que eu gostava. Na época, era bom, mas hoje percebo o quanto fui um idiota por não me manter envolvido com quem realmente sempre importou.


Troquei minha família pelas paixões do mundo, e as paixões do mundo me tiraram da minha família. Nada mais justo. Essa foi a minha escolha.

Hoje, depois de tantos anos, sei o quanto errei. Tenho total consciência de que deixei de lado o que mais importava, abandonei o meu propósito e me deixei levar por meus vícios, orgulho, egoísmo e vaidade.

Vivi o que queria viver, mas não o que me comprometi a viver. Isso me deixa muito triste, mas entendo que aprendi com essa situação.


Estou mais preparado e confiante, aguardando uma nova oportunidade. Sei que vai demorar, mas virá, e eu, mais comprometido com o propósito e renovado, terei mais força para suportar as provas do mundo e me tornar o espírito que preciso ser.


Deus, como um verdadeiro pai, jamais abandona os seus filhos e, no momento certo, me resgatou daquele umbral em que eu estava vivendo mentalmente. Com isso, fiz uma promessa a mim mesmo de que jamais sucumbirei novamente, e renovado, acredito que estou pronto para ser hoje muito melhor do que fui ontem.


Escrevo meu relato com o objetivo de trazer para as pessoas que o lerem a minha experiência e sofrimento. Minhas escolhas guiaram os meus passos e me fizeram perder tudo o que era importante para mim e que jamais dei valor.


Afirmo que a frase "as pessoas apenas dão valor quando perdem" é real e verdadeira. Quando perdi, dei valor e aprendi que sempre fiz más escolhas. Portanto, tome cuidado com seus pensamentos, com o ambiente em que escolhe viver e com as suas companhias. O mundo está cheio de provas, e o lugar onde estamos mais protegidos e fortalecidos é o seio familiar.


Por mais que acreditem que podem viver o melhor lá fora, afirmo que, na maioria dos casos, estão enganados. Sair para o mundo sem o preparo adequado é perigoso, e as escolhas erradas trazem consequências graves.


A família é o nosso refúgio. As nossas raízes. Onde encontramos o amor, o afeto e a verdadeira conexão. Valorize, cuide e ame a sua família, pois um dia você pode perder e perceber que nada é mais importante do que isso.


NAVEGANTES DA ESPIRITUALIDADE

(Relato Espiritual)

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