Destroços, corpos e lama. Isso foi o que deparei ao despertar em um plano espiritual. Era como se tivesse mergulhado em um pesadelo sombrio, onde toda a humanidade compartilhava um sofrimento indescritível.
A sensação de dor e remorso pairava no ar, envolvendo aquele ambiente com uma atmosfera aterradora. Fiquei imobilizado por momentos, contemplando a névoa que limitava minha visão a poucos metros à frente. No entanto, mesmo nessa visão limitada, conseguia testemunhar a cena de expiação diante de mim.
Era como se tudo houvesse chegado ao fim, e as pessoas se encontrassem perdidas em meio ao caos e à destruição. Nada parecia real, uma vez que minha última lembrança enquanto estava encarnado era da vida seguindo seu curso normal.
A paisagem se estendia num cenário de consternação indescritível. Nada se encaixava, nada se assemelhava às minhas lembranças. Nesse turbilhão de pensamentos, me vi em um limiar entre um pesadelo sombrio e o despertar de um mundo familiar. Percebi o quão confusa a mente pode ficar quando confrontada com o desconhecido.
Com o passar das horas, no entanto, comecei a compreender a verdade. Eu havia desencarnado abruptamente, sem entender o porquê. Não estava doente, e não recordava de me sentir mal. Lembro-me apenas de estar no bar, desfrutando de um momento com amigos, e agora estava nesse lugar.
O medo e o desespero cresciam dentro de mim à medida que minha consciência se expandia, e eu reconhecia que não fazia mais parte do mundo dos vivos.
À medida que essa compreensão se aprofundava, minha mente se esclarecia. Fragmentos de memória ressurgiam. Lembro-me de meu último dia na Terra, quando acordei cedo, compartilhei um café da manhã simples com minha mãe. Uma refeição modesta, apenas um pedaço de pão e uma xícara de café. Depois, os convites dos amigos para o bar, os momentos em que hesitei antes de partir.
Minha mãe, talvez pressentindo algo, implorou para que eu ficasse um pouco mais, mas eu estava ansioso para aproveitar o tempo com meus amigos. A lembrança de dar um beijo em sua testa, do abraço apertado, de suas lágrimas silenciosas. Era como se ela soubesse, em seu coração, que aquele era o último abraço.
No bar, bebidas foram pedidas e cadeiras arrastadas para formar uma mesa improvisada. Eu me sentei de costas para a rua, mal tendo tocado minha cerveja quando o som de um carro acelerando e tiros rompeu o ar. A dor no meu pescoço, a visão final do amigo baleado. Meus olhos se fecharam e então se abriram nesse lugar.
Percebi, com uma angústia profunda, que havia sido assassinado. O assassino, um mistério. Entre as teias de conexões na comunidade e vizinhança, a lista de suspeitos era extensa. Mas nesse instante, não queria nutrir ódio ou vingança. Minha única busca era escapar desse lugar.
E assim, minha mente mergulhou em reflexões sobre os caminhos que me trouxeram àquela encruzilhada sombria. Eu não queria estar ali, mas sentia as cobranças da minha consciência, a justiça divina se manifestando. Crimes cometidos: roubos, furtos, golpes variados, tráfico. Eu sabia o que era certo, minha mãe me ensinou com paciência, mas eu escolhi o caminho errado por conveniência.
Naquele espaço, vi com clareza a inutilidade de tudo que conquistara pelo crime. Restava apenas a culpa e o arrependimento. Passei anos naquele estado, cerca de quatro, até que as orações e o amor da minha mãe me resgatassem. Ela partiu para o além e veio ao meu encontro com fé e determinação. Com ela, veio uma equipe compassiva. O processo de reequilíbrio e aprendizado começou.
Hoje, através deste canal, compartilho minha história para demonstrar que os crimes, erros e malefícios praticados reverberam em nossa consciência. Essa mesma consciência tenta nos impedir, mas nossos desejos podem superar sua voz.
Para você, leitor, uma prece: abrace o dever de amar e praticar o bem. São essas ações que suavizam a transição para um estado mais puro, livre de culpa e arrependimento.
Mesmo que carregue culpa, não permita que isso o paralise. Não se afogue no passado, em remorsos. Liberte-se carregando a luz do bem, do amor, da caridade e do perdão. Essa jornada elevará sua alma, preparando-o para a vida espiritual com dignidade.
A vida após a morte é inegável, mas o estado dessa transição depende de suas escolhas. Como seria sua jornada se fosse chamado de volta agora?
Eu senti na alma o peso dos fardos de culpa. Desejo que você os solte enquanto ainda há tempo.
NAVEGANTES DA ESPIRITUALIDADE
(Relato Espiritual)