Por mais que eu tenha sido uma boa pessoa em minha última encarnação, sofri muito durante a vida e além do túmulo.
Tive uma vida humilde, casei, tive filhos e dei bons frutos, mas na velhice fui acometido por doenças que me fizeram sofrer demais e eu não entendia o porquê.
Jamais cometi excessos, sempre fui muito cuidadoso com minha saúde e meu corpo físico. Tinha uma vida bem ativa, cuidava da minha alimentação e praticava exercícios físicos, mas nada disso adiantou no final.
Meu corpo começou a degenerar, meus músculos atrofiar e meus ossos ficaram fracos e começaram a quebrar. Nenhum tratamento foi suficiente e eu sentia dores insuportáveis.
Minha família, que tanto me ama, também não entendia os motivos de tanto sofrimento, mas colocavam em prática os ensinamentos que eu mesmo havia dado.
Um deles dizia "devemos acreditar em Deus acima de tudo, pois Ele é soberanamente justo e bom, e tudo que acontece tem um propósito."
Assim, passei a sofrer cada dia mais. As dores aumentaram e, com o psicológico abalado e sem fé, o sofrimento intensificou-se até que, um dia, não suportei e desencarnei.
Meu corpo morreu, mas meu espírito despertou nas trevas. A revolta me levou para um lugar horrível e, quando lá me encontrei, comecei a blasfemar e odiar a Deus e seus desígnios.
Como Deus pode permitir que tudo aquilo acontecesse comigo daquela maneira?
Fiquei por mais de meio século neste lugar horrível, sem ter ideia do tempo. Somente chorando, lamentando, blasfemando, reclamando e me sentindo vítima de um Deus poderoso e injusto que premia apenas quem Ele quer e pune aqueles que não ama.
Tudo que eu havia aprendido, eu já havia esquecido. Com o tempo, eu nem era mais eu, vivia o mesmo ciclo o tempo todo. Um ciclo de sofrimento e perturbação mental.
Um dia, enquanto estava deitado e escondido dentro de uma caverna escura, percebi uma luz muito forte entrando, clareando todo o ambiente.
Aquela luz foi tomando forma e minha visão, que estava ofuscada, foi se adaptando. Percebi então que eram três pessoas vestidas de branco, transmitindo um amor nunca antes sentido por mim.
Fiquei muito assustado e me encolhi, ali mesmo onde estava.
Uma delas, uma mulher, se aproximou, ajoelhou e colocou a mão no meu rosto. Senti meu corpo astral se entorpecer e fui apagando. Ao mesmo tempo, senti lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
Quando dei por mim, estava em outro lugar, bonito e iluminado. Deitado em uma cama limpa, dentro de um quarto perfumado. Nada comparado ao inferno em que eu estava.
Parecia um quarto de hospital, mas muito diferente dos que vemos na Terra.
Novamente, a mesma senhora que eu imaginava ter sonhado entrou pela porta do quarto e me disse: "Olá, Estevão, como está?"
Eu nem me lembrava mais do meu nome. Apenas respondi que me sentia muito bem e permaneci em silêncio.
Ela então se aproximou, sentou na borda da minha cama, segurou minhas mãos, olhou profundamente nos meus olhos e me perguntou: "Não se lembra de mim?"
Respondi que não, mas sabia que ela não me era estranha. Sentia um carinho por ela e sentia seu amor por mim.
Ela colocou sua mão direita no topo da minha cabeça e parecia orar em silêncio.
Depois de um curto tempo, disse: "Sou eu, meu amor, a sua Vitória", abrindo um sorriso com os olhos cheios de lágrimas, que me fizeram lembrar e despertar a consciência que há muito tempo estava adormecida e minhas lembranças da vida que vivi ao seu lado.
No mesmo instante, puxei-a para perto de mim, comecei a chorar convulsivamente, dei um abraço super apertado e disse: "É você, meu amor, agora me lembrei. Como pude te esquecer?"
Ela respondeu com alegria: "Você nunca me esqueceu, só estava confuso e fechado em um mundo que você mesmo criou, mas agora está tudo bem."
Nossa! Aquilo foi tão forte e renovador que me fez recordar tudo e todos. Perguntei sobre nossos filhos e ela só me deu boas notícias sobre o que eles se tornaram ao longo do tempo em que passei naquele lugar. Ela também me disse que desencarnou vinte anos depois de mim e que, após muito pedir e aguardar pelo melhor momento, permitiram que ela fosse me socorrer.
A forma como eu me encontrava e tudo o que criei ao meu redor dificultaram muito suas boas ações, e por esse motivo ela não pôde vir antes. No entanto, ela passou todo esse tempo orando por mim e rogando a Deus pela oportunidade de me resgatar daquele lugar.
O momento chegou e ela foi. Ela me resgatou e me salvou.
Serei eternamente grato a ela, pois, se não fosse pelo amor que ela tinha por mim, não sei quando sairia daquele lugar.
A partir daquele momento, minha vida mudou completamente. Renasci com uma consciência mais elevada, um coração cheio de amor e uma determinação incansável de fazer o bem.
Eu, Estevão, o homem que um dia blasfemou, agora sou grato a Deus por tudo que vivi e entendo que cada experiência foi necessária para o meu crescimento espiritual.
Tudo foi justo e aconteceu exatamente como deveria, mas eu não suportei as dores e enfermidades, o que me levaram ao fundo do poço. No entanto, não há fundo do poço tão profundo que Deus não possa te resgatar, e foi isso que aconteceu.
Sinto que falhei, mas buscarei minha redenção através dos estudos, do conhecimento e da prática do bem.
Agradeço por ter minha amada Vitória ao meu lado, pelos filhos maravilhosos que tivemos e pelas oportunidades que surgem a cada dia para que eu possa ajudar aqueles que, como eu, um dia estiveram perdidos e sem esperança.
O sofrimento é para todos, pois burila nosso espírito e nos faz crescer. O que difere uns dos outros sofredores é a forma como escolhem passar pela expiação: reclamando e blasfemando como eu fiz ou com resiliência, resignação e aceitação.
Essa é uma escolha que cabe somente a nós.
A vida é cheia de ciclos, sejam eles bons ou ruins, e todos são finitos. O problema é que, enquanto vivemos os bons momentos, na maioria das vezes, não aprendemos nada, e precisamos do sofrimento para nos ensinar.
Quando nos encontramos em sofrimento, em vez de nos apegarmos à fé, confiar em Deus e buscar entender os motivos que nos levaram a sofrer, preferimos reclamar e nos vitimizar, postergando ainda mais o fim do ciclo.
As pessoas precisam entender que todo sofrimento é válido e que nada acontece por acaso. Se, durante os momentos de dor, pudermos nos manter equilibrados e aprender o que é necessário naquele momento, o ciclo será encerrado mais rapidamente e a dor será mais suportável.
Que sejamos fortes, resilientes e saibamos sofrer, pois todos sofremos e a dor nos ensina. Quanto mais resignação e aceitação tivermos, mais frutos colheremos durante a seca.
Agora, depois do que passei e aprendi, a cada amanhecer, acordo com gratidão no coração, sabendo que Deus está sempre comigo e que serei eternamente amado.
Navegantes da Espiritualidade.
(Relato Espiritual)
Comments