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ENCONTREI-ME PRESA

Atualizado: 14 de nov. de 2023

Vivi uma vida sem responsabilidades; meu negócio era curtir, sentir a adrenalina pulsar no meu coração e viver como se não houvesse amanhã. Na infância, dei muito trabalho aos meus pais, que eram boas pessoas, mas jamais tiveram pulso firme na minha educação e construção.


Éramos de classe média e tínhamos condições de ter o que a maioria não podia.


Eu frequentava uma boa escola, era muito inteligente, mas não gostava de estudar. Gostava de ir para a escola, rever minhas amigas e os meninos que flertava.


Fui crescendo, ganhando liberdade e fazendo novos amigos.


Conheci alguns que me identifiquei de imediato. Meus pais não gostavam deles, pois tinham uma postura diferente da nossa.


Com o tempo, passei a andar como eles, me vestir igual e falar da mesma forma, debochada e desrespeitosa para com todos.


Éramos todos adolescentes e gostávamos de causar o caos, perturbando o sossego das pessoas.


Certa vez, a fim de nos testar e fazer algo errado, mas nada muito grave, decidimos furtar uma conveniência de um posto de gasolina.


Eu e mais dois amigos adentramos o estabelecimento, e, enquanto eu distraía o atendente que gostou da minha aparência física e passou a me dar atenção com um certo ar de sedução, meus amigos foram pegando o que viam pela frente.


Pacotes de salgadinhos, balas, doces, refrigerantes e algumas bebidas alcoólicas.


Colocaram tudo nas mochilas que carregavam nas costas e saíram. Eu, após alguns minutos de flerte com o atendente, também saí, e ele nada percebeu.


Quando nos encontramos na rua, nos afastamos o mais rápido possível, sem dar bandeira de que tínhamos cometido um crime.


Chegando à casa de um deles, fomos direto para o seu quarto. Seus pais não estavam, pois trabalhavam o dia todo. Colocamos tudo que furtamos sobre a cama e começamos a consumir. A primeira coisa que pegamos foram as garrafas alcoólicas. Esta seria mais uma aventura, mais uma coisa errada que faríamos, posto que ainda não havíamos experimentado nada alcoólico, e nossos pais nos proibiam. Bebemos tudo como se fosse água e adoramos a sensação de estarmos embriagados.


Nossa! Que loucura! Fizemos tudo isso em um único dia, e estávamos muito felizes, pois tudo havia dado certo e ninguém tinha percebido.


Passaram-se mais de dez anos nessa vida, sem ter cursado uma faculdade ou tentado um emprego. Nós tínhamos muitos bens materiais: carros, motos, relógios, roupas caras, e vivíamos em baladas, gastando muito dinheiro com bebidas.

Nossos pais sabiam que fazíamos coisas erradas, mas ninguém ousava dizer nada. Vez ou outra, recebíamos um conselho, mas nem dávamos ouvidos.


Nós adorávamos aquela vida, e as pessoas que nos cercavam nos amavam, pois curtíamos baladas juntos, e todos se aproveitavam da nossa condição.


Certa vez, já cansados de furtos pequenos que nos davam pouco dinheiro e apenas proporcionavam alguns prazeres, resolvemos fazer um grande roubo, para mudar de vida, estourando alguns caixas eletrônicos em municípios menores, mais distantes do nosso.


Compramos os equipamentos, explosivos, carros roubados com placas adulteradas e tudo que era necessário para cumprir nosso propósito. Só não compramos armas, para não correr o risco de ter que usar.


Nosso plano era explodir e furtar o dinheiro na calada da noite; assim, em cidade pequena, demoraria até a polícia perceber e nos procurar. Nossa ação seria rápida, e não queríamos que ninguém se machucasse.


Quando estava chegando perto da data agendada para o crime, minha ansiedade não era mais controlável. Eu e meus amigos estávamos em êxtase, aguardando com muita alegria o grande momento que nos colocaria em um patamar mais elevado perante os agentes do crime.


Se tudo desse certo, seríamos venerados por todos que nos conheciam, e teríamos ainda mais moral onde morávamos.


Contudo, durante a explosão e o furto, algo deu muito errado, e o que era para ser um sucesso se transformou em uma desgraça sem tamanho.


Após a explosão, enquanto estávamos recolhendo as cédulas dos três caixas que se encontravam arrombados, ouvimos sirenes, e quando olhamos para a rua, percebemos algumas viaturas chegando.


Desesperados, tentamos correr para o carro que nos aguardava na porta, mas, infelizmente, para meus dois amigos, não deu tempo.


Os policiais, percebendo que fugiríamos com o dinheiro, começaram a atirar em nossa direção, e meus dois amigos foram atingidos por balas fatais e morreram na hora.


Vendo-os caídos e desesperada, não vi outra solução a não ser me jogar no chão, ficar deitada na esperança de que os policiais poupassem minha vida.


Por algum motivo sobrenatural, isso ocorreu, pois os policiais chegaram muito exaltados, com a nítida intenção de acabar com minha vida, mas um deles, que parecia mais calmo e justo, me algemou e me ajudou a entrar na viatura, para que nenhuma injustiça ocorresse, haja vista eu já estar desarmada e rendida.


Meus amigos morreram, e eu fui presa. Logo, fui transferida para um presídio de segurança máxima, junto a diversas detentas que haviam cometido os mais horrendos crimes. Naquele instante, achei que minha vida havia acabado.


O tribunal me sentenciou a 20 anos de prisão, não só pela tentativa de roubo, mas por diversos outros crimes que acabei confessando. Passei dez anos presa. Sofri muitas coisas que são difíceis de mencionar.

Na prisão, acabaram com minha dignidade, sofri abusos, me obrigaram a fazer coisas que jamais imaginaria, e no décimo ano, durante uma briga que nem era minha, passaram uma navalha no meu pescoço e findaram minha vida.


Enquanto sentia o sangue jorrando pela minha jugular, fui perdendo os sentidos e, quando percebi, já estava fora do meu corpo, caída no pátio da prisão, sem vida.


Fiquei desesperada. Por alguns minutos, fiquei ali do lado do corpo morto, chorando compulsivamente.


Logo depois, pude ouvir uma voz chamando pelo meu nome. Olhei para trás imediatamente, e quando percebi quem me chamava, quase desmaiei. Perdi por alguns instantes os sentidos, que logo voltaram ao normal.


Eram meus dois amigos, aqueles que perdi no roubo dos caixas eletrônicos, que tinham vindo me buscar, juntos a mais dois socorristas da colônia espiritual onde moravam.


Foi um momento confuso, no qual senti muita alegria por revê-los e ser resgatada por eles, mas ao mesmo tempo de dor e remorso, por ter deixado a vida dessa maneira.


Percebi naquele instante que eu havia perdido minha oportunidade de construir algo e estava partindo com muitos débitos que um dia seria necessário quitar.


A minha vantagem era que durante os dez anos como presidiária, pude refletir sobre muitos erros cometidos e estava arrependida de muita coisa. Isso facilitou e tranquilizou minha passagem para o outro plano, e por isso fui socorrida de pronto.

Eles me abraçaram, me guiaram e orientaram. Estavam muito diferentes. Com novas ideias, propósitos e muito mais maduros. Não eram mais aqueles moleques que eu conheci. Haviam se tornado pessoas melhores e mais evoluídas.


Eles me disseram que isso ocorreu após o desencarne deles. Sofreram muito em um lugar chamado umbral, mas logo foram socorridos e desde então, trabalham e estudam muito nessa colônia espiritual onde estão morando.


Após o desencarne, ficaram dois anos em sofrimento no umbral, pois não tinham conhecimento da vida além do túmulo, e já estavam há oito anos estudando e buscando aprimoramento moral na colônia que os resgatou.


Este tempo já havia feito uma grande diferença, pois eles estavam iluminados e vieram me resgatar.


Hoje, moro na mesma colônia, trabalho cuidando de crianças para que possa despertar em mim o desejo de ser mãe e constituir família, pois isso também ensina, limita nossas ações e enobrece a alma.


Quanto aos estudos, aqui, contrariando ao que eu vivia na carne, gosto de estudar e sou muito curiosa.

Quero ter tempo para aprender de tudo um pouco, pois assim conseguirei identificar minhas aptidões, para que, quando eu voltar para carne, tenha um propósito de vida definido, com carreira profissional, família, religião e trabalhos em prol do bem, do amor e da caridade.


Sei que não é fácil, pois quando estamos aí, nos esquecemos de tudo e se nos desviarmos do caminho, poderemos não mais voltar, mas desta vez, vou me fortalecer muito mais, para não sucumbir às tentações e às minhas fraquezas.


Espero que você, lendo este relato, possa se identificar com minha simples experiência, onde eu desviei do caminho e logo perdi a minha vida e, consequentemente, minha oportunidade de crescer moralmente e espiritualmente.


Hoje sei onde errei e o que devo fazer para não mais errar, mas você não precisa desencarnar para tomar consciência, basta refletir sobre suas atitudes, aprender mais sobre você mesmo e buscar seu burilamento.


Não tem ideia do quanto isso fará diferença na sua vida e o quanto o universo irá te recompensar por isso. Faça sua parte e permita que o universo faça a parte dele. Ele só está esperando o seu sinal, demonstrando que está preparado, para que possa enviar até você o que for do seu merecimento. A vida é assim, basta aprender a viver.


NAVEGANTES DA ESPIRITUALIDADE.

(Relato Espiritual)

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