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EU PERDOEI MEU ASSASSINO

Nascido em 1980, vivi boa parte da minha vida na casa dos meus avos. Meus pais, policiais militares, trabalhavam muito e suas escalas de trabalho eram exaustivas.

Fui crescendo e sendo criado na maior parte do tempo por minha avó, excelente dona de casa e meu avô, um operário dos bons, pau para toda obra, que me ensinou muitos conceitos de como ser um homem útil, trabalhador e honesto.


Eu sempre tive muito mais proximidade e intimidade com meus avos do que com os meus pais, chega até ser estranho, mas eu preferia ficar na casa deles e visitar meus pais de vez enquanto.


Foi o que aconteceu, conforme fui crescendo e desenvolvendo opinião própria, escolhi morar em definitivo com eles, que ficaram muito felizes e meus pais, por conveniência, acharam melhor mesmo.

O carinho e o amor que desenvolvi por eles é eterno e maravilhoso.


Faziam tudo por mim, me tratavam melhor do que tratavam os próprios filhos. Eles eram pais da minha mãe, que também não tinha muito tempo para eles e pouco os visitava.


Fui crescendo e passei a ajudar em tudo dentro de casa, sempre me dispondo a ajudar. Meu vô adorava e tinha orgulho em dizer que eu o havia puxado.


Quando eu tinha em torno de 14 anos, minha avó que já vinha doente, desencarnou e essa foi, com certeza, a pior perda que eu tive na vida.


Nós nos dávamos tão bem e eu adorava deitar em seu colo e receber seus cafunés.

Dali em diante, me senti na responsabilidade de cuidar do meu avô, que também era idoso, mas muito disposto e bem de saúde.


Fazíamos tudo juntos, desde arrumar e limpar a casa quando ele estava, à caminhar pelas ruas ao entardecer.


Meu avô era o chamado “gente boa”, conhecia todo mundo e todos o respeitavam, desde os mais jovens aos mais idosos.


Certo dia, caminhando nós dois pela rua, um jovem, aparentando mais ou menos 20 anos de idade, nos abordou meio estranho e acelerado, pedindo algum dinheiro, mas meu vô se recusou a dar e disse que não tinha.


O rapaz aparentemente drogado, gritou com ele dizendo, “vamos velho, me dá algum dinheiro, estou com fome e preciso comer”, meu avô sabia que ele estava mentindo, e negou, passando a andar mais rápido e puxando o meu braço.


Eu estava assustado com a reação do rapaz, mas queria proteger meu avô.

O rapaz, percebendo a rua vazia e na intenção de realmente fazer o mal, veio atras da gente e segurou meu avô pelo braço, que deu um puxão e empurrou o rapaz para se livrar dele.


No mesmo instante, como que prevendo que isso iria acontecer, o rapaz puxou um objeto escuro, que logo percebi ser um revólver.


Meu avô se assustou e institivamente caminhou de costas, me protegendo atras dele e tentando se afastar com a maior agilidade do rapaz, que naquele momento já estava transtornado e pronto para fazer o pior.


Eu, por instinto e reação, prevendo que o rapaz faria mal ao meu vozinho, girei meu corpo com o dele e me pus a sua frente, de costas para o meliante.


Neste mesmo momento, ouvi um disparo, senti um pequeno impacto e uma fortíssima queimação em minha costa, que refletia na frente, na altura do meu coração.


Isso mesmo, tomei um tiro, que partiu da arma do rapaz e me atingiu em cheio, quase que a queima roupa, entrando por trás e acertando o meu coração.


Não consegui balbuciar mais nenhuma palavra, o rapaz após o disparo saiu correndo e sumiu quando virou a esquina.

Meu avô, desesperado e sem saber o que fazer, colocou minha cabeça em seu colo e começou a gritar por socorro, vendo que minha vida estava chegando ao fim, vendo se esvair o brilho dos meus olhos e o meu sangue escorrer pela rua.


Desencarnei naquele momento.


Foi um baque tão grande e tão inesperado que, acordei deitado no chão, ao lado do meu corpo, já rodeado por socorristas, policiais, meus pais e muitos curiosos.


Não entendia como eu poderia estar em pé, ao lado do meu corpo deitado no chão, sem vida e todo ensanguentado.


Minha mãe chorava copiosamente abraçada ao meu avô e meu pai conversa com os policiais, pedindo que encontrassem meu assino e fizessem justiça com as próprias mãos.

Fiquei ali, por alguns minutos, ouvindo tudo e desesperado, com medo, sem entender realmente o que havia ocorrido.


Nossa! Foi tão estranho, era como seu eu soubesse que estava morto, mas ao mesmo tempo sabia que estava vivo, por isso a confusão.


Que só passou, quando avistei, vindo em minha direção, minha avó. Tomei um susto, senti um arrepio, mas ao mesmo tempo, uma felicidade e uma vontade de abraça-la.

Já faziam dois anos que ela havia morrido e eu com meu avô, sempre nos lembrávamos dela com muito amor e carinho.


Ela chegou, olhou profundamente nos meus olhos, com um olhar sereno e uma luz ofuscante que a rodeava e, me disse que estava me esperando e que estava ali para levar-me com ela.

No mesmo instante aceitei, pois a confusão mental em que eu me encontrava, não era possível fazer qualquer questionamento. Somente me deixei levar.


Saímos dali e fomos para um lugar lindo, verde e com muita natureza. Cores vibrantes, águas cristalinas, cheiros e sensações que eu nunca havia sentido.

Era um lugar realmente especial.


Minha avó me disse que dali para frente, passaríamos um bom tempo juntos e que com o passar do tempo eu iria entender o ocorrido e me adaptaria a minha nova vida.


O rapaz que me assassinou, foi encontrado pelos policiais, reagiu e foi morto. Não o encontrei, mas hoje, depois de tanto tempo, gostaria muito de o reencontrar e dizer que o perdoo.


Depois de alguns anos vivendo no mundo espiritual e adquirindo a compreensão que tenho, sei que nada aconteceu por acaso e que tudo estava previsto, ele foi somente a ferramenta para que eu passasse exatamente pelo que eu tinha que passar.


Ainda vou reencontra-lo e se ele estiver na intenção de buscar o meu perdão, quero lhe dizer que, do fundo do meu coração, ele já está perdoado faz tempo.


Minha família que ficou na terra, sofreu com o luto, magoas e culpas por um tempo, mas hoje, com mais compreensão e entendendo um pouco mais sobre a vida e a espiritualidade, levam uma vida mais regrada, voltada para família e dando mais valor ao que realmente importa.


Meu avô segue vivo e logo se juntará a nós, na verdade estamos até ansiosos, mora sozinho, mas é muito mais visitado pelos meus pais, que entenderam o sofrimento dele e dão total apoio para que ele fique bem.


Saibam que, meu relato visa demonstrar que a vida é um sopro, que nada acontece por acaso, que precisamos buscar entendimento e aceitação para as coisas que não podem ser mudadas e sabedoria para as que podem, na intenção de estarmos sempre em harmonia com a vida, família, espiritualidade e com Deus, nosso Pai Maior que tudo rege com maestria e faz o melhor por todos nós o tempo todo.


Não importa em qual situação da vida você se encontra, qual dificuldade vem passando ou o que passou, o que importa realmente é a força da fé que você desenvolve ao longo da sua caminhada, que te dá a sabedoria e a resignação necessária para que enfrente as dificuldades com mais confiança e força para vencer.


Fiquem em paz e com Deus. Forte abraço.

NAVEGANTES DA ESPIRITUALIDADE

(Relato Espiritual)


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