Segundo o que minha mãe dizia: “antes só do que mal acompanhada.” Ela estava certa, mas eu, perdidamente apaixonada, não tinha forças para lidar com meus sentimentos e me desapegar daquele relacionamento tóxico que acabou me destruindo.
Durante minha última passagem na Terra, neste século, fui muito bem recebida, criada e amparada pelos meus pais, que sempre me deram muito amor e carinho, além de uma vida materialmente confortável.
Nasci em 1985 na cidade de São Paulo, a caçula de mais dois irmãos. Pedro e Raul eram apenas alguns anos mais velhos que eu. Ambos eram irmãos bondosos e muito amorosos, sempre cuidando de mim como se eu fosse a princesinha da casa, preocupados comigo e dedicados a me proteger.
A diferença de idade entre mim e Raul era de dois anos, e para Pedro, quatro anos. Sim, éramos uma escadinha. A cada dois anos meus pais tiveram um filho e só pararam quando eu nasci.
Nossa vida era harmoniosa e feliz. Minha infância foi rodeada de familiares. Sempre tivemos muito contato com nossos avós, tanto por parte de pai quanto de mãe. A nossa família era muito unida. Todos muito amáveis. Vó e vô são tudo de bom, não é? E os meus são maravilhosos.
O tempo foi passando, e logo eu estava na adolescência. Era uma menina muito bonita e atraente, chamava a atenção por onde passava. Mesmo assim, nunca me envaideci. Sempre fui muito consciente e responsável. Jamais brinquei com os sentimentos alheios. Conheci poucos garotos, mas um em especial me encantou de uma maneira sobrenatural.
João Pedro. Ele era diferente. Muito bonito também, mas ao mesmo tempo, atraente e charmoso. Tinha um jeito especial de me olhar e de me fazer sentir bonita. Seus olhos transpareciam toda a sua admiração por mim, e todos no colégio sabiam do nosso interesse mútuo.
Ele tinha a mesma idade do meu irmão Pedro, o mais velho. Se conheciam, pois todos se conheciam, mas não eram amigos. Todos os dias trocávamos olhares. Quando estávamos próximos, na mesma roda de amigos, conversando, sentíamos as mãos suarem e o coração acelerar. Ainda assim, levou algum tempo até que nos aproximássemos de verdade.
Isso aconteceu somente depois que ele saiu da escola. Ele se formou na mesma época que meu irmão, mas, de vez em quando, aparecia na porta do colégio para rever os amigos. Nos cumprimentávamos, mas era só.
Até meus irmãos comentavam em casa que nossa relação era uma “melação só,” mas que nenhum de nós tinha coragem de se aproximar e expressar os próprios sentimentos. Até meus pais riam dessa situação. Minha mãe dizia em tom de brincadeira: “Esse menino é muito mole, Patrícia. Quando ele vai tomar uma atitude?”
Nós ríamos muito, e eu ficava envergonhada.
Certo dia, fomos convidados por um amigo em comum para uma festa de aniversário. Fomos e nos encontramos lá. No início, tudo ocorreu da mesma forma: apenas trocas de olhares. Mas, da metade da festa em diante, começamos a nos aproximar.
Eu não consumia bebidas alcoólicas, mas ele sim. Socialmente. Estava bebendo com meus irmãos, todos se divertindo e rindo muito. Em determinado momento da festa, já estávamos lado a lado na mesma roda. Meio tímido ainda, mas já se soltando por conta do efeito do álcool, ele começou a puxar assunto, e acabamos nos distanciando do grupo.
Quando estávamos mais afastados de todos, depois de um tempo de conversas aleatórias, naturalmente nos aproximamos, e o primeiro beijo aconteceu. A emoção quase tomou conta de mim para que fosse um momento mágico, mas, de repente, metade das pessoas na festa — lideradas pelos meus irmãos — nos rodearam e começaram a gritar: “Até que enfim! Até que enfim! Aeeeee”
Ficamos constrangidos, mas entramos na brincadeira. Naquele dia, só houve mais um beijo de despedida, e, à noite, demorei para dormir, revivendo aquele momento.
Os dias foram passando, a gente foi se encontrando na escola, nos aproximando cada vez mais, e em poucos dias já estávamos namorando, inclusive depois que ele conversou com meus pais, que gostaram dele. Era um bom menino, educado e preocupado. Isso era algo que dava para sentir nele.
Um ano depois do nosso primeiro beijo, tivemos nossa primeira noite de amor. Foi surreal. Não tenho palavras para descrever o quanto foi mágico para nós dois. Fomos extremamente responsáveis, nos protegendo, e ele foi muito cauteloso e carinhoso, sabendo que era minha primeira vez. Para ele, não era a primeira, mas ele também não era experiente. Tudo fluiu maravilhosamente bem. A conexão foi tão intensa que, para nós, parecia um reencontro de almas.
Depois desse dia, nossa conexão se intensificou ainda mais, e não queríamos mais ficar separados. Estávamos juntos o tempo todo. Começamos a deixar de lado momentos com nossas famílias e amigos para viver aquela paixão ardente. Era uma coisa louca, um desejo intenso. Não podíamos ficar perto um do outro sem encontrar um jeito de dar uma escapadinha para saciar nossa vontade.
No início, foi muito gostoso, não posso negar. Mas, com o passar do tempo, tudo começou a ficar estranho. João Pedro foi se transformando em uma pessoa extremamente ciumenta e possessiva. Eu já percebia esses traços nele, mas a situação foi evoluindo de forma negativa, nos fazendo mal.
Eu não tinha mais amigos. Nem com minhas amigas eu podia me encontrar sozinha. Todos os dias ele ia me buscar na escola, ficava me controlando, me questionando. Fazia perguntas sem sentido, como, por exemplo: “O que vocês estavam conversando naquela rodinha quando eu cheguei?” ou “Por que estavam rindo tanto?”
Isso começou a me fazer muito mal. Eu passei a me comportar de forma diferente do que era antes. Essa situação começou a pesar sobre minhas costas. Estava perdendo a alegria de estar com ele e me sentia envergonhada com sua presença constante na porta da escola.
Nosso relacionamento estava ficando tóxico, perdendo o brilho e o amor. Apenas o desejo continuava inalterado, consumindo tanto a ele quanto a mim. Na época, achava que isso era normal, até por nossa idade, mas depois descobri que não era – e, naquele ponto, já era tarde.
João Pedro se transformou em um homem possessivo, ciumento, apegado, desconfiado, irritado, e, o pior de tudo, agressivo. Eu nunca imaginei que ele tivesse esse lado.
Ele ficou tão doente que, em certo dia, enquanto conversávamos sobre seu temperamento e sua postura, ele gritou comigo com uma raiva intensa no olhar e, ao final da conversa, disse que eu era dele e de mais ninguém.
Fiquei muito assustada, silenciei e comecei a chorar. Vendo meu choro, ele respirou fundo, se acalmou, me abraçou e disse que me amava demais, que tinha muito medo de me perder. Naquele momento, senti seu amor misturado com um apego doentio. Eu não sabia o que tinha acontecido para que ele se perdesse daquela forma e se tornasse um homem tão inseguro e agressivo.
Contudo, ali percebi que, por mais que eu o amasse e o desejasse loucamente, eu precisava me amar e me valorizar primeiro. A partir de então, passei a ser um pouco mais fria. Comecei a dizer não algumas vezes para o sexo, simplesmente afirmando que não estava com vontade. Nunca menti ou inventei dores de cabeça; apenas dizia: “Hoje, eu não quero.” Por mais que eu quisesse, estava tentando encontrar um jeito de controlar aquela situação ruim.
Ele foi ficando pior. Quando eu dizia que não queria, ele me atacava, dizendo que eu tinha outro, que estava o traindo. Fazia dramas, afirmando que eu não o amava mais. Na maioria das vezes, eu contornava, dizendo apenas que não estava com vontade, mas que isso não mudava o meu amor por ele.
Ele se tornava cada vez mais inseguro e perturbado. Passou a me sufocar, não me dando tempo para mais nada. Naquele momento, eu já sentia falta da minha família e dos meus amigos, dos quais me afastei por escolha. Não ria mais como antes, não tinha mais a mesma alegria de viver. Estava sendo consumida por aquele sentimento doentio que exauria minhas forças. Depois dos nossos encontros, eu voltava para casa pior do que antes.
Percebendo que aquilo estava me deixando doente, tanto mental quanto fisicamente, durante uma discussão por um ciúme bobo, tive coragem de dizer que não queria mais ficar com ele daquela maneira. Extremamente consciente do que eu queria, disse, com todas as letras, tudo o que ele precisava ouvir. Falei sem grosserias, sem elevar o tom de voz. Lembrei o início da nossa relação e comparei com o que estávamos vivendo naquele momento, mostrando que não era isso que eu queria para minha vida.
Ele me deixou falar, mas foi inflamando sentimentos negativos e ira dentro de si. Quando terminei, ele me olhou com muito ódio e disse: “Você tem outro, sua…”
“Você está me traindo. Eu tinha certeza! Conheceu algum safado que satisfaz seus desejos melhor do que eu, e agora quer jogar nossa história no lixo e ficar com ele. Com quantos você já me traiu? Eu sabia que não deveria confiar em você. Mesmo eu ficando de olho e em cima, nada adiantou, você encontrou um jeito de transar com outro.”
Nossa! Para mim, aquilo foi a gota d’água. Com lágrimas nos olhos, disse a ele que aquele não era o João Pedro pelo qual eu me apaixonei e que não ficaria com ele nem mais um segundo. Abri a porta do carro e tentei sair. Ele segurou meu braço com muita força e me puxou abruptamente para dentro do veículo, exigindo que eu fechasse a porta. Eu disse para ele me largar ou eu gritaria, mas ele nem se importou.
Para evitar uma situação pior, acatei a sua ordem. Fechei a porta e pedi que ele soltasse meu braço. Ele soltou, mas segurou meu rosto, apertando meu queixo com força desmedida. Olhando profundamente nos meus olhos, afirmou: “Se não vai ficar comigo, não ficará com ninguém.”
Soltou meu rosto, ligou o carro e saiu cantando pneu. Fiquei atônita, sem saber o que fazer naquele momento, e passei a sentir muito medo. Pedi que ele parasse o carro para que eu pudesse descer, mas ele nem me deu ouvidos.
Ele dirigia pelas ruas como se não houvesse outros carros, apenas nós dois, mas o fluxo ainda era considerável; eram por volta de vinte e duas horas. Dirigindo como um louco pelo nosso bairro, ele passou por lugares conhecidos por nós, onde nossos amigos costumavam se encontrar.
Ao passarmos por uma praça onde meus irmãos estavam sentados, conversando com um grupo de amigos, baixei o vidro e gritei por socorro. Todos olharam ao mesmo tempo e perceberam que era eu dentro do carro do João Pedro, que dirigia feito um maluco.
Meus irmãos, junto com mais dois amigos, correram para o carro do Pedro e vieram atrás de nós. A perseguição começou, e o medo aumentou, pois João Pedro passou a acelerar ainda mais o veículo. Em uma dessas ruas, passamos em alta velocidade por um posto policial. Eles perceberam a perseguição e prontamente começaram a nos seguir. Meus irmãos informaram a eles o que estava acontecendo, e a polícia pediu para que ficassem para trás, pois eles cuidariam do caso.
A perseguição durou cerca de vinte minutos, até que, em determinado momento, João Pedro, ao tentar fazer uma curva, perdeu o controle e capotou o veículo, que girou algumas vezes e bateu de lado em um poste de energia. O impacto me afetou diretamente.
O acidente foi tão forte que ambos desencarnamos instantaneamente. João Pedro foi jogado para fora do carro, e meu corpo ficou preso nas ferragens, sem vida aos vinte anos.
Que situação horrível. Morrer dessa maneira. A dor era dilacerante. Meu espírito foi expulso do corpo com muita violência. No momento do acidente, já me vi presa nas ferragens e, ao mesmo tempo, em pé do lado de fora do veículo. Fiquei em pânico. Gritei por socorro. A agonia e o desespero tomaram conta de mim. Eu acabara de morrer, mas ainda estava consciente, presenciando tudo o que acontecia.
Vi quando o resgate chegou e quando meus irmãos e meus pais chegaram. Acompanhei o desespero deles. Os gritos de dor da minha mãe invadiam meu corpo espiritual, e isso me deixava ainda pior. A sensação era inexplicável. Não existem palavras para descrever aquele momento. Dor, dor e mais dor.
Após alguns instantes, dois homens e uma mulher, vestidos com roupas claras, tocaram meu ombro e me ofereceram ajuda. Eu não sabia se eles estavam vivos ou mortos, e, percebendo meu medo e minhas dúvidas, a mulher, muito amorosa, disse que todos estávamos vivos. Apenas o meu corpo havia morrido, mas tudo seria explicado mais adiante.
Eles me convidaram para seguir com eles, mas eu estava muito preocupada com meus pais, especialmente com minha mãe. Eles me deram um banho de luz para que eu me acalmasse, e então passei a ver outros como eles cuidando da minha família. Percebendo a ação do plano espiritual naquele momento e o socorro a todos, perguntei, preocupada, se não convidariam João Pedro. A mulher, carinhosamente, me disse que ele já tinha seguido seu caminho e que eu precisava seguir o meu. Fiquei mais aliviada e decidi ir com eles.
Recebi mais um banho de luz. As dores cessaram, minha mente se acalmou, e eu apaguei, como se tivessem me dado um sedativo fortíssimo. Fui perdendo os sentidos e adormeci.
Quando acordei, já não estava mais na cena do acidente. Estava em um lugar totalmente diferente. Parecia uma ala hospitalar bem grande e iluminada, com muitas macas lado a lado, mais de cem, com certeza. Nas paredes ao redor, havia muitas imagens da natureza, lindas flores, e no centro uma imagem abstrata representando Jesus Cristo.
Eu nunca fui religiosa, mas era cristã, assim como minha família. Fiquei contemplando sua imagem e comecei a sentir uma sensação boa, como se ela emanasse em minha direção uma energia de paz e amor, reconfortante.
Logo, apareceu aquela mulher que me convidou a seguir com eles depois do acidente. Seu nome é Alice. Sua imagem não me era estranha, era como se já nos conhecêssemos há muito tempo. Senti seu carinho, respeito e amizade. Ela me cumprimentou e perguntou como eu estava me sentindo.
Respondi que estava muito melhor, não sentia mais aquelas dores insuportáveis, e minha mente estava mais lúcida do que o normal. Ela ficou feliz com minhas respostas.
Disse que eu estava passando bem pela transição e que logo estaria plenamente recuperada. Questionei de qual transição ela falava, e ela me explicou que era em relação à passagem do plano físico para o espiritual. Naquele momento, entendi e confirmei o que já estava suspeitando: eu realmente havia desencarnado. Tinha algumas lembranças do acidente e dos momentos antes, mas tudo agora era muito abstrato e confuso.
Ela pediu para que eu evitasse pensar nisso por enquanto, pois poderia me fazer mal. Perguntei sobre minha família e João Pedro. Ela me pediu paciência, pois em breve todas as perguntas seriam esclarecidas, mas que, por agora, eu precisava me recuperar. Deu-me mais um banho de luz – que depois descobri ser um passe – e voltei a dormir.
Quando acordei novamente, não estava mais naquela ala hospitalar, mas em um quarto muito harmonioso, bonito e decorado com inúmeras flores perfumados e coloridas, espalhadas por todos os cantos, inclusive na janela.
Mais uma vez, Alice veio me ver. Viu que eu já estava plenamente recuperada e puxou uma linda poltrona para sentar-se ao meu lado, aguardando enquanto eu observava tudo. Assim que terminei, perguntei: “Onde estou agora? Por que tantas flores? Elas são lindas e vibrantes.”
Ela, com um sorriso nos lábios, me disse que eu estava em outra ala do hospital espiritual, concluindo minha recuperação, que estava indo muito bem, por sinal, e que aquelas flores representavam as orações de amor e carinho que eu vinha recebendo do mundo físico. Contou que até fizeram um tributo para mim na escola. Foi muito lindo. Comecei a chorar.
Ela pediu que eu não chorasse de tristeza, mas sim de alegria, pois são poucos que recebem tantas mensagens e orações com amor. Sequei minhas lágrimas, sentei na cama e perguntei sobre minha família e João Pedro.
Ela respondeu que minha família sofreu muito no início, mas agora estava tentando encerrar a fase do luto e seguir em frente. Perguntei quanto tempo fazia que eu havia desencarnado. Ela respondeu que aproximadamente três meses. Fiquei muito surpresa. “Nossa, muito tempo.”
Alice explicou que foi necessário me manter dormindo para que meu espírito e minha psique não fossem afetados pelas energias de sofrimento emanadas pelos meus amigos e familiares, além do apego de João Pedro. Eles me mantiveram adormecida e protegida para me resguardar de energias que poderiam me abalar profundamente, fazendo-me sofrer demais e, consequentemente, reviver o estado do acidente, sentindo todas aquelas dores.
A providência divina e sua misericórdia são perfeitas. Tudo é luz, e a sincronia é maravilhosa.
Quis saber mais sobre João Pedro. Alice respondeu com muito carinho: “Nosso irmão ainda sofre. Por conta do apego e dos sentimentos negativos que alimentava em si mesmo, foi atraído para zonas de sofrimento. O apego ainda o consome. Ele está perdido em seus próprios pensamentos, revoltado com o que aconteceu. Não se perdoa pela negligência e por todo o sofrimento que causou a você e a tantas pessoas. Está te procurando loucamente, mas seu estado mental jamais permitirá que te encontre. Está muito distante daqui e, enquanto não se equilibrar, refletir, se arrepender e se perdoar, permanecerá nesse estado. Temos diversos irmãos trabalhando para acolhê-lo, mas é um trabalho muito difícil, pois seu estado é lamentável. É uma mistura de sentimentos, uma ebulição de pensamentos repetitivos, raiva e ódio ao mesmo tempo, que impedem qualquer um de acessá-lo. Ele está perdido na escuridão da própria ignorância, e, no momento, nada podemos fazer por ele a não ser orar e rogar pela misericórdia divina.”
Espero que, em breve, João Pedro tenha um momento de lucidez para receber o auxílio divino. Como disse Jesus: “nenhuma ovelha ficará perdida.”
Chorei muito com tudo isso. Não conseguia compreender os motivos pelos quais João Pedro havia se transformado daquela maneira. Tudo ainda era muito confuso para mim. Alice, percebendo meus questionamentos internos, pediu que eu me acalmasse, respirasse fundo e equilibrasse meus pensamentos. Ela disse que somos reféns das nossas escolhas e que ninguém passa pelo que não tem que passar.
Com essa explicação, compreendi o que havia acontecido comigo e entendi que nada foi por acaso. Eu também me deixei levar pela paixão e pelas minhas escolhas impulsivas. Tudo poderia ter sido diferente se eu tivesse adotado outra postura desde o início, mas, enquanto parecia bom para mim, eu escolhi continuar. Por que não saí do carro quando ainda podia? Por que não terminei antes? Por que não fiz diferente?
Essas são perguntas que nunca terei como responder. O momento passou. Fui resgatada prontamente porque não carregava nenhum sentimento negativo em relação a João Pedro ou ao que aconteceu. Havia apenas compaixão e amor por ele vibrando dentro de mim.
Tudo fazia muito sentido agora. Eu precisava refletir, analisar e aprender com meus erros. Arrependo-me muito de ter me afastado da minha família, dos meus amigos e de tudo aquilo que me fazia bem. Tinha planos e sonhos, mas deixei tudo de lado para viver uma paixão que se tornou doentia. Eu também era responsável, pois alimentei essa energia e esses desejos.
Tudo bem. Agora eu tinha que me recompor. Precisava me perdoar e pedir perdão à minha família. João Pedro já estava perdoado. A minha família não merecia passar por isso, sentir essa dor. Eu sequer conseguia mensurar o sofrimento deles.
O tempo passou. Hoje estou plenamente recuperada. João Pedro já foi resgatado. Ainda sofre e precisa de tratamento. Carrega culpas e remorsos, mas está arrependido e disposto a fazer diferente. Ainda não nos encontramos, mas em breve isso acontecerá. Minha mãe começou a frequentar um centro espírita e recebeu uma carta minha. Saber que eu estava viva e bem aliviou seu sofrimento. Trouxe consolo a todos. Hoje ela está bem melhor, aceitando tudo com mais entendimento e resignação.
Eu estudo e sirvo como posso. Tenho amor e carinho por esse lugar de luz e pelas pessoas que me acolheram nessa colônia. Sonho em poder voltar e viver uma nova experiência, já que essa foi abreviada tão precocemente. Quem sabe um dia. Tudo depende da minha construção aqui. Quando eu estiver preparada, irão permitir.
Para vocês, deixo o meu abraço com muita luz. Espero que o meu relato toque o seu coração, desperte sua consciência e o interesse em buscar conhecimento sobre a vida e além dela. Nossos erros e nossas escolhas moldam nosso destino. Reflita sobre as escolhas que vem fazendo hoje e para onde elas podem te levar. Essa é uma ação importante para todos.
Caso esteja passando por um momento turbulento, reflita sobre suas escolhas do passado, pois elas te trouxeram até aqui. Colhemos o que plantamos, e é exatamente por isso que a vida é tão justa.
NAVEGANTES DA ESPIRITUALIDADE
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