No início, minha mente estava imersa em confusão. Quando despertei, encontrei-me em um lugar estranho, escuro e desolado. Era como um cenário de filme apocalíptico, com destroços por toda parte, como se ali houvesse ocorrido uma catástrofe sem precedentes.
O vento rugia com intensidade, misturando-se ao som ensurdecedor de trovões que ecoavam como o prelúdio de uma grande tempestade. Raios cortavam o céu, iluminando por instantes a multidão ao meu redor. Pessoas caminhavam sem rumo, amontoadas e se acotovelando, andando em círculos como se estivessem aprisionadas em um estado de alienação profunda. Suas feições eram marcadas pela dor e pelo vazio: rostos pálidos, olhos opacos e semblantes cadavéricos. Pareciam figuras vivas do desespero.
A sensação era de um tormento coletivo. Ainda sem compreender o que acontecia, senti um medo indescritível. Estava assustado, desnorteado e confuso, mas, ao mesmo tempo, percebia que minha consciência era mais clara do que a das pessoas ao meu redor. Talvez, por isso, eu buscasse respostas em meio àquela penumbra de angústia.
Afastei-me da multidão, determinado a encontrar algum ponto que me permitisse entender melhor o que se passava. Andei por entre aquelas almas perturbadas, sentindo uma compaixão crescente por cada uma delas. Ao alcançar uma elevação de pedras, escalei com cuidado e, do alto, tive uma visão que me aterrorizou. Milhares de pessoas vagavam naquele cenário desolador, como se fossem prisioneiras de seus próprios tormentos interiores.
Sentei-me ali por um longo tempo, tentando organizar meus pensamentos e recordar como havia chegado àquele lugar. Parecia um pesadelo, mas não conseguia despertar. Na tentativa de reconstruir minha memória, lembrei-me de minha vida na Terra, do sofrimento que antecedeu minha morte e, finalmente, da transição que me trouxera até ali.
Minha mente vagou até minha enfermidade. Eu estava acamado por anos, consumido por uma doença que me trouxe dores insuportáveis. Recordei-me da dedicação de minha esposa, que cuidava de mim com um amor que eu não sentia merecer. Ela suportara, silenciosamente, décadas de violência e humilhações causadas pelo meu vício no álcool e pelo temperamento agressivo que eu exibia sempre que me embriagava.
Nossos três filhos, que presenciaram e sofreram com minha brutalidade, haviam cortado laços comigo. Nenhum deles me visitou durante os dois anos em que fiquei prostrado. Durante aquele período de enfermidade, refleti muito sobre minhas escolhas e pedi perdão à minha esposa, mas nunca tive coragem de enfrentar meus filhos. Minha vergonha era maior que meu arrependimento.
Lembrei-me, então, de meu último dia na Terra. Meu corpo debilitado finalmente cedeu, e a morte chegou. E agora, ali estava eu, num lugar que parecia refletir toda a dor e desordem que existira dentro de mim durante a vida. Meu espírito reconheceu que aquele era o resultado das escolhas que fiz, mas, ao mesmo tempo, meu coração ansiava por redenção.
Foi então que algo mudou dentro de mim. Cansado de sofrer, sentei-me sobre as pedras e clamei com todo o fervor de minha alma ao Pai Celestial. Roguei por perdão, supliquei por misericórdia e chorei amargamente pelos erros que havia cometido. Busquei em minhas memórias os momentos de amor que vivi ao lado de minha família, aqueles breves instantes em que fui um pai carinhoso antes de ser consumido pelo álcool e pela raiva. Ao relembrar esses momentos, comecei a pedir perdão a cada um deles, nomeando-os em pensamento e entregando meu coração ao arrependimento sincero.
Algo extraordinário aconteceu. À medida que pedia perdão, senti uma leveza invadir meu ser. Uma luz suave começou a envolver meu corpo, e, pela primeira vez, senti que a culpa que me esmagava estava sendo dissipada. Foi então que ele apareceu: um homem iluminado, irradiando uma paz que era indescritível. Sua presença trouxe uma serenidade que eu nunca havia experimentado antes.
Sem dizer uma palavra, ele aproximou-se, estendeu a mão e ajudou-me a levantar. Em seguida, abraçou-me com força, transmitindo um amor tão profundo que me desmanchei em lágrimas. Por alguns minutos, ficamos ali, sem palavras, apenas sentindo a conexão de nossas almas. Ele, então, sussurrou: “Chegou o seu momento, irmão. Venha comigo para sua nova vida.”
Fui tomado por uma esperança que há muito havia esquecido. Outros espíritos também começaram a se juntar a nós, atraídos pela luz e pela paz que emanava daquele ser bondoso. Quando percebi, estávamos em uma espécie de caravana espiritual, prontos para deixar aquele vale de sofrimento.
Fomos levados em um transporte que mais parecia um ônibus flutuante, o aerobus. Enquanto olhava pela janela, sentia-me cada vez mais reconfortado pela paisagem que passava diante de meus olhos. Finalmente, após uma longa viagem, chegamos ao nosso destino: a Colônia Espiritual das Violetas.
Desembarcamos em um hospital espiritual, onde fomos recebidos com alegria por trabalhadores dedicados. Fomos direcionados a uma ala reservada para recém-chegados, onde nos deitamos em macas flutuantes e fomos tratados com cuidado. As energias densas de nossos corpos foram limpas, e novas roupas foram plasmadas para cada um de nós. Nesse momento, comecei a compreender o quanto estávamos sendo cuidados.
O enfermeiro que me assistia, percebendo minha confusão, explicou pacientemente que, mesmo após a morte, continuamos vivos e que nosso corpo espiritual também necessita de cuidados e reequilíbrio. Essa explicação iluminou minha mente, ajudando-me a aceitar aquela nova realidade.
Depois de alguns dias, totalmente recuperado, fui levado ao meu alojamento. Era um quarto simples, mas aconchegante, em um complexo habitacional da colônia. Na parede havia uma tela especial, onde eu podia observar minha família na Terra. Foi um choque perceber que já haviam se passado vinte anos desde minha morte. Vi minha esposa mais envelhecida e meus filhos adentrando a meia idade. Foi doloroso, mas também reconfortante saber que a vida continuava.
Com o tempo, passei a estudar na colônia para compreender mais sobre a vida, a morte e as consequências de nossas escolhas. Descobri que os anos que passei no vale de sofrimento foram resultado direto das culpas e ressentimentos que carregava. Eu estava aprisionado por mim mesmo, incapaz de perdoar e me perdoar.
Meu aprendizado transformou minha alma e assim iniciou o meu despertar espiritual. Decidi que dedicaria minha nova vida ao trabalho de resgatar outros espíritos que, assim como eu, estavam perdidos em suas dores e culpas. Tornei-me parte de uma equipe de resgate espiritual, visitando zonas de sofrimento e levando luz e esperança aos que estão prontos para recomeçar.
Hoje, compartilho minha história para que você, que ainda está encarnado, possa refletir sobre suas escolhas. Não espere a morte para buscar o perdão, para se reconciliar com quem você ama ou para corrigir seus erros. O tempo é agora. Viva com amor, perdoe e se perdoe. Transforme sua vida enquanto há oportunidade.
Lembre-se: errar é humano, mas permanecer no erro é uma escolha. Não permita que o orgulho ou a culpa o impeçam de ser feliz. O arrependimento e a mudança são sempre possíveis, e o amor de Deus está ao alcance de todos.
Que a paz e a luz estejam com você, e que seu caminho seja iluminado pela esperança e pela fé.
Navegantes da Espiritualidade
Indicação de Leitura: A VIDA ETERNA - Experiências de Vida Após a Morte - https://a.co/d/ife5o0h
Muito bom