No início, foi terrível. Eu não tinha ideia do que estava acontecendo. Tudo parecia um sonho ruim, ou melhor, um pesadelo.
Quando dei por mim, estava vagando em um lugar escuro e tenebroso, cercado de sombras e vultos. Ouvia gargalhadas, gritos, insultos e ameaças, mas não enxergava ninguém.
Era como se minha visão estivesse se ambientando àquele lugar horrível.
Mas não era isso, não era a visão, mas sim o meu espírito que fora desligado do corpo que havia sido assassinado horas antes.
Fui me lembrando aos poucos do ocorrido.
Lembrei que estava em minha casa, sozinho. Escutei alguém chamando pelo meu nome no portão, Reinaldo nessa última encarnação, e quando vi quem era pela janela, fiquei em choque. Sabia o que estava por vir.
Fui até o meu quarto, peguei uma arma velha e enferrujada que eu tinha, pois sabia que invadiriam a casa. Não tinha mais como fugir.
Não deu outra, em poucos minutos já estavam chutando a porta de entrada. Arrombaram e entraram, eu tentei me esconder, mas não deu certo. Me encontraram.
Saquei a minha arma, mas não tive coragem de atirar. Eu nunca fui assassino. Nem para me defender tive coragem de atirar em alguém.
Sendo assim, fui facilmente desarmado. Me fizeram ficar de joelhos e com diversos disparos findaram a minha vida material.
Acabaram com minha vida por conta de uma dívida de jogo.
Extremamente arrependido das minhas escolhas, mas com ódio no coração e muita vontade de me vingar, sem saber como, vaguei por muitos anos na escuridão, onde somente podemos sentir o sofrimento e a dor daquele lugar que pulsa negatividade.
Tudo é escuro e tenebroso. Não existe sol, somente nuvens carregadas, com tempestades de raios e fogo queimando árvores secas. Não existe, para mim, lugar que eu possa descrever pior do que aquele em que passei muitos anos após meu desencarne.
O pior não era isso, mas sim meus ferimentos à bala. Todas as vezes que me lembrava do ocorrido e sentia ódio e vontade de me vingar, jorrava sangue dos meus ferimentos e aquilo me deixava muito fraco. Algumas vezes até desmaiei com a sensação de que estava morrendo novamente, mas isso era impossível.
Senti a sensação de morte inúmeras vezes e isso me causou muito sofrimento.
Não fiz amizades, pois não confiava em ninguém naquele lugar, mas sentia que em algum momento eu sairia dali.
Certo dia, após sentir muita tristeza e sofrimento, decidi rogar a Deus por uma nova oportunidade. Em meio a essa oração, com palavras que fluíam do fundo do meu coração, prometi que me livraria daquele ódio que carregava em meu coração e que estava completamente arrependido das escolhas que havia feito.
Naquele instante de prece e elevação da minha consciência, senti meu corpo astral se entorpecer e apaguei. Adormeci ali mesmo, naquele chão lamacento, na esperança de que um dia Deus ouvisse minhas súplicas e me perdoasse pelo que eu havia feito.
Quando acordei, tudo era diferente. Eu não estava mais no mesmo lugar. Estava em uma casa, com alguns quartos pequenos, mas bem aconchegantes e iluminados.
Pela janela ainda era possível ver a escuridão daquele lugar, mas onde eu estava era cercado por muros altos e naturalmente me senti bem acolhido e protegido. Dormi novamente, mais tranquilo, acreditando que espíritos benfeitores haviam me socorrido, graças à bondade e à misericórdia divina.
Quando despertei novamente, percebi que estava no mesmo lugar e que tudo era muito real. Minhas feridas estavam secas e fechadas. Não havia mais sangramento e a dor era amena.
No quartinho em que eu estava tinha uma cama, um armário bem pequeno, uma escrivaninha com uma cadeira, um espelho pequeno e uma porta que levava ao banheiro. Era uma suíte pequena, mas muito confortável, se comparado com a condição em que eu estava vivendo.
Fiquei receoso de levantar e passei alguns minutos observando tudo com muita atenção, tentando ouvir alguma voz ou pessoas caminhando fora do quarto.
De repente, ouvi uma gritaria, uma confusão do lado de fora, com gritos de dor e agonia. Pensei em me levantar, mas achei melhor não abrir a porta. Poderia acontecer algo muito ruim e meu medo não me permitiu sair da cama.
Passando-se um pequeno tempo, um homem negro, forte e bem afeiçoado, vestindo uma túnica branca, adentrou o meu quarto e, percebendo que eu estava acordado e com medo, me disse para ficar em paz que estava tudo bem.
Sua voz amorosa e seu jeito gentil me tranquilizaram de imediato. Me sentei na cama e perguntei que lugar era aquele.
Ele, com sorriso no rosto, me informou que era um dos muitos postos de socorro daquele lugar sombrio e que eu havia sido socorrido pelos que caminham na escuridão a fim de auxiliar aqueles que precisam e alcançaram o merecimento.
Fiquei confuso, mas estava feliz por estar em um lugar muito melhor, sendo bem acolhido por espíritos benfeitores.
Naquelas circunstâncias, fiquei algum tempo no pronto-socorro, até que reestabelecesse minhas energias e me livrasse dos ferimentos, que levaram um tempo para cicatrizarem e sumirem.
Tudo dependia da forma como eu estava disposto a me livrar do ódio e perdoar.
Enquanto estive naquele lugar, além do tratamento que recebia com passes, água, medicamentos e alimentos naturais, como frutas, legumes, verduras e outras coisas novas, tinha uma rotina de aprendizado e adaptação ao plano espiritual.
Aprendi muito sobre corpo físico e corpo astral, suas diferenças e semelhanças. Estudei também sobre o poder da mente e o quanto podemos criar ou destruir com nossos pensamentos e intenções.
Conforme fui me aprimorando intelectualmente, minha vibração foi se elevando e, pouco tempo depois, já estava apto a deixar o posto de socorro para partir rumo a uma colônia espiritual indicada pelos diretores daquele lugar.
Saí de lá muito grato, renovado e preparado para essa nova vida.
Chegando à minha nova morada, fui novamente muito bem recebido e me ambientei com muita facilidade.
Neste lugar, desde que cheguei, aproveito o meu tempo, estudando, trabalhando, servindo e nos momentos de lazer encontro meus amigos, novos e antigos, pois muitos, eu já conhecia de outras vidas e fui levado para lá justamente a pedido deles, que me aguardavam ansiosos para me ver bem.
Hoje, me sinto mais leve e feliz. Vivo uma vida espiritual plena e tenho muitos planos para o futuro. Sei que preciso e irei voltar para a Terra, através da reencarnação, para quitar alguns débitos, mas me sinto mais preparado.
O plano é voltar cercado de bons parentes e amigos, para que tenha boa base e bons alicerces que me auxiliarão na nova empreitada. Não será fácil, assim como não é para ninguém que aceita o desafio, mas sei que preciso fazer.
O planeta Terra é uma escola maravilhosa, onde aprendemos e nos colocamos à prova. Muitas vezes caímos, mas, por misericórdia divina, temos a oportunidade de voltar mais preparados e conscientes para quitar nossas dívidas e alavancar nosso crescimento moral e espiritual.
Agradeço a oportunidade de deixar o meu relato. Isso para mim e para aqueles que caminham comigo é muito importante, pois bem sabemos que com isso poderemos abrir a mente e auxiliar aqueles que ainda persistem no erro e na maldade.
Deus é justo e bom o tempo todo, mas nós precisamos fazer crescer dentro de nós essa energia divina que nos dá a vida e nos direciona. Com ela, nos tornaremos mais fortes, melhores e poderemos transformar nossas vidas
Todos nós carregamos dentro de nós luz e escuridão, mas a escolha de fazer crescer uma delas é somente nossa. Reflita sobre isso e busque fazer o que te faz bem e pode fazer bem aos seus irmãos.
Que Jesus vos abençoe e vos fortaleça na luta contra o mal que existe dentro de você.
Paz e luz.
NAVEGANTES DA ESPIRITUALIDADE
(Relato Espiritual)
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